Enquanto alguns setores da indústria nacional foram fortemente abalados pela pandemia, o mercado de máquinas para plásticos apresentou bom desempenho.
Entre os motivos que explicam a boa performance estão: o câmbio, na medida em que inibe a compra de produtos acabados e estimula a produção interna; a queda dos juros, que leva os investidores a aplicar o dinheiro em produção; e o aumento da demanda por embalagens.
Amilton Mainard, presidente da CSMAIP - Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios para Indústria do Plástico da Abimaq, lembra que o setor passou muitos anos “andando de lado”, já que foi bastante afetado por crises anteriores, como a de 2013/2014.
Os resultados positivos só voltaram a aparecer em 2019. Para 2020 havia a expectativa de continuar a tendência de crescimento, o que acabou se concretizando mesmo com a pandemia. “O ano de 2020 terminou melhor do que a previsão pré-pandemia. Já havia uma demanda programada, mas a pandemia trouxe uma demanda inesperada”, diz.
Outro fator que contribui com o crescimento, conforme Mainard, é que a imagem do plástico acabou sendo revista com a chegada da pandemia, já que o material passou a ser essencial.
“Se você incentiva o delivery, é preciso fabricar embalagem. Isso foi positivo para todos os segmentos da indústria do plástico”, aponta.
A necessidade por embalagens também fomentou outros negócios para empresas já consolidadas - nos setores de agronegócios e de alimentos, por exemplo - que passaram a investir em máquinas para plástico. Desta forma, essas empresas alimentam suas necessidades internas e também o mercado externo.
“Isso também gera compra de máquinas. Alguns equipamentos já não estão disponíveis para entrega em 2021, o que é um bom sinal e mostra que o pessoal está trabalhando já para 2022”, complementa o presidente da CSMAIP.
Atualmente, o setor vive (assim como vários outros) uma instabilidade nos preços, principalmente de matéria-prima. No Brasil, a economia depende muito de produtos importados, o que afeta diretamente o setor de plástico. Segundo Mainard, hoje é preciso realinhar e negociar valores, ações que o mercado vem absorvendo.
“Também falta matéria-prima para a transformação do plástico, que aos poucos a matéria-prima começa a aparecer devido ao aumento da produção [das matérias-primas] e não por queda de demanda, o que é bom pra todo mundo. A tendência é que os preços de acomodem a médio prazo”, aponta.
Sobre a perspectiva de crescimento para 2021, Mainard aponta que ainda é cedo para arriscar, mas que o mercado espera que seja de 10 a 15%. No ano passado o fechamento esteve por volta dos 14%. “Esse ano deve se repetir até porque as demandas do mercado interno continuam aquecidas”, afirma.
Fabricantes
A Romi afirma ter se preparado, diante da recuperação das atividades industriais, em relação aos pedidos de matérias-primas e componentes junto à cadeia de suprimentos, o que tem permitido que ela atenda os clientes dentro de um prazo adequado e competitivo.
Segundo a empresa, o setor de embalagens tem contribuindo de forma positiva para o segmento de máquinas para plástico da Romi, tanto injetoras quanto sopradoras, com um incremento importante nas vendas.
“O mercado tem buscado aumentar sua competitividade aplicando mais produtividade ao processo e reduzindo os custos com energia elétrica e consumo de matéria-prima. Neste aspecto, estamos continuamente inovando e buscando novas tecnologias para incrementar maior desempenho, produtividade e redução do consumo de energia em nossos equipamentos, visando elevar ainda mais a competitividade dos transformadores de plásticos de sopro e injeção”, diz Maurício Lopes, diretor de Comercialização da Romi.
Para a empresa, o ano passado foi muito bom em termos de desempenho de vendas. “Houve uma procura dos nossos clientes que atuam no setor de embalagens, principalmente a partir do mês de abril e que se estendeu até o final de 2020 e início de 2021”, afirma Lopes.
No primeiro trimestre deste ano, a carteira de pedidos da Máquinas Romi (máquinas-ferramenta e máquinas para plástico) apresentou crescimento de 206,7% em comparação com o mesmo período de 2020.
De acordo com o diretor, o crescimento está relacionado ao maior volume de negócios nos mercados interno e externo, nos quais houve uma importante retomada nos investimentos a partir de junho e dezembro de 2020, respectivamente.
Paulo Lakatos, diretor comercial da Lakatos Termoformadoras, concorda que o mercado para plásticos segue bastante aquecido. A empresa tem muitos pedidos em carteira e o prazo de entrega está para janeiro de 2022. “A Lakatos teve um crescimento muito importante durante a pandemia, em produção e em número de funcionários”, comenta.
O maior problema enfrentado pela empresa, como pontuado pelo presidente setorial da câmara da Abimaq, é a pressão dos custos. De acordo com Lakatos, os fornecedores vêm repassando reajustes muito fortes, liderados principalmente pelo aço.
Como a empresa trabalha com pedidos sob encomenda, os preços são negociados sem reajustes, o que acaba alterando o custo do produto e acarreta em margens de lucro mais baixas por conta dos custos dos insumos utilizados na produção.
Atualmente, mais de 80% do que a Lakatos produz - máquinas termoformadoras e moldes - tem como destino o mercado de embalagens. “Isso reflete no aumento do nosso faturamento e dos pedidos”, aponta Lakatos. As máquinas mais procuradas são as da linha de termoformagem em PET. Outra linha bastante procurada é para a produção de embalagens delivery, em polipropileno. A expectativa da Lakatos é aumentar suas vendas em 30% em 2021.
Gino Paulucci, diretor da Polimáquinas, informa que as empresas do setor estão com carteiras longas. Ele conta que as vendas e a produção começaram a melhorar no segundo semestre de 2020. “Entramos neste ano bem e a tendência é de melhora, já que historicamente, para o setor de embalagens, o segundo semestre é sempre melhor do que o primeiro”, diz.
As maiores dificuldades encontradas pela empresa também estão relacionadas à falta e ao preço do aço. “Agora os fluxos de entrega já foram normalizados, mas ainda temos preços bastante altos”, destaca. Paulucci classifica o problema de repasse dos custos de produção para os clientes como uma “briga de foice”: “Está muito difícil fazer todos os repasses”.
Da metade do ano passado para cá, a Polimáquinas assistiu a um aumento de 30% em suas vendas e a expectativa continua sendo de crescimento.
Importadores
Para atender a demanda do mercado, a Eurostec adotou a estratégia de reforçar seu estoque, mantendo o constante fluxo de importação de máquinas injetoras.
O maior problema enfrentado pela empresa (causado pela pandemia) é a redução global de malhas marítimas, provocando o desabastecimento de containers em vários portos, atrasos e elevações de custos nos fretes.
“Isso impacta de maneira direta os preços de máquinas e insumos. A tendência é que a partir do segundo trimestre comecem a melhorar o fluxo marítimo e acomodações dos preços dos fretes”, explica Márcio Reis, coordenador comercial da divisão de plásticos da Eurostec, que é distribuidora exclusiva de injetoras da marca Bole no Brasil.
No primeiro trimestre, a empresa registrou aumento de 20% nos pedidos em carteira em relação ao mesmo período do ano passado “Um resultado esperado, tendo em vista os investimentos realizados na manutenção de nossos estoques, ampliações estruturais e em novos centros de tecnologias para demonstrações aos clientes”, comenta Reis. Em 2020, o crescimento foi de 35% frente a 2019, com destaque para máquinas de corte a laser e injetoras Bole.
Para 2021, a expectativa da Eurostec é bastante positiva, com ambiente favorável para investimentos e tendência de retomada mais forte a partir do segundo semestre.
A Simco Máquinas chega ao mês de abril registrando recorde em pedidos programados para 2021: 100 máquinas. “O ano começou aquecido e tão bom quanto o final do ano passado”, comenta Vitor Ortega, diretor de desenvolvimento de negócios da empresa que representa a fabricante de injetoras Lo, da China.
Atualmente, as máquinas para plástico representam 70% do faturamento da Simco; os outros 30% correspondem ao segmento de máquinas operatrizes.
Apesar das dificuldades impostas pela disponibilidade e preços dos fretes (chegando a US$ 9 mil o container), a perspectiva da empresa é de crescimento. O primeiro trimestre apresentou alta de pouco mais de 50% em relação ao mesmo período de 2020. A empresa prevê crescimento de 25% em 2021 em relação ao ano passado.
“O mais importante é ver essa movimentação no segmento de plástico, que não víamos fazia bastante tempo. Nós estamos muito animados com as perspectivas que o mercado, principalmente a cadeia do plástico, nos traz.
Também estamos sentindo uma retomada expressiva do mercado de maquinas operatrizes, que está com um volume de pedidos bem representativo. É um ano que promete”, finaliza Ortega.
Fonte: Usinagem Brasil
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