Empresa familiar - o caminho para a continuidade

Erigida com muita inspiração e transpiração pelo fundador, a empresa de sucesso precisa se estruturar para a sucessão familiar sob o risco de sucumbir já na segunda geração.

  

Nosso objetivo aqui é chamar atenção a um assunto determinante para a sobrevivência de um gigantesco volume de negócios, e por consequência de milhões de pessoas que dependem deles. De acordo com o SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, nada menos do que 90% das empresas em funcionamento no Brasil são de origem familiar, e uma recente pesquisa do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostrou que elas respondem por metade da riqueza gerada anualmente no país, o chamado PIB - Produto Interno Bruto.

  

O problema, ainda segundo o SEBRAE, é que de cada 100 companhias familiares fundadas em solo brasileiro, apenas 30 chegam à segunda geração da família - e só 5 alcançam a terceira.

  

Por que isso acontece? O que pode ser feito para ampliar as chances de continuidade desses negócios que surgem e crescem em família, mas não conseguem se perpetuar dentro dela? O que difere as empresas que perecem das companhias que prosperam, atingindo o nível de multinacionais e empregando milhares de funcionários, como o Grupo Votorantim, o Banco Itaú ou a WEG, por exemplo?

  

Além da pura capacidade empreendedora e de gestão, esses negócios costumam internalizar dois conceitos que detalharemos em seguida. O primeiro deles é o sonho compartilhado, a grande matéria prima capaz de inspirar os integrantes de uma família a se engajar no duro trabalho necessário para construir e sustentar um empreendimento.

  

Para que uma empresa familiar consiga se perpetuar é essencial consolidar uma visão coletiva de futuro suficientemente forte para manter fundadores e sucessores juntos. Trata-se de uma percepção, uma ideia do que essa família empresária é ou quer ser no futuro, sobre que tipo de negócio esse núcleo familiar quer construir e como deseja ser percebido pelo mundo.

  

Em resumo, o sonho compartilhado é o que carrega o empreendimento familiar de significado, a reserva moral de onde seus integrantes tiram energia para atingir os grandes feitos. É a bússola a indicar a direção em momentos em que a adversidade escurece o caminho.

  

O segundo conceito essencial, complementar ao sonho compartilhado, chama-se senso de legado. É um componente que ajuda a alimentar o sonho conjunto da família empresária e entre os que têm o hábito de cultivar as próprias tradições pode se formar naturalmente.

  

Para que um negócio se perpetue, é essencial que os sucessores entendam e assumam para si mesmos um significado de legado. Deve ficar claro a eles que a empresa vai além das propriedades que irão herdar, que ao receber os bens e direitos e assumir o comando o sucessor se torna responsável por algo criado e mantido vivo graças ao trabalho duro de uma ou várias gerações passadas. Esse sucessor precisa conseguir enxergar a posição em que se encontra: a de custodiante de um legado, com a obrigação de transmitir aos seus descendentes uma instituição tão ou mais sólida do que a que lhe foi deixada pelos mais antigos.


  
Dito isso, chegamos à segunda sequência de perguntas.

  

Qual o segredo para formar sucessores que se interessem por levar a empresa da família adiante e sejam capazes de cumprir essa tarefa com excelência? Qual o caminho para preparar esse sucessor (ou sucessores) eficientemente? Que ferramentas podem ajudar a construir uma estrutura que apoie o bom funcionamento da empresa, respeitando as nuances da vida familiar?

  

Pretendemos iluminar o caminho que leva às respostas nos próximos dois artigos dessa série. Embora não exista uma receita pronta para a continuidade da empresa familiar, a experiência indica uma série de boas práticas capazes de auxiliar as famílias empresárias a se perpetuarem, com destaque para os mecanismos da Governança Corporativa.

  

A dica número 1 é simples: nunca é cedo demais para começar a adotar essas boas práticas. Não é preciso esperar a empresa crescer para implantar as ferramentas de Governança, assim como o processo de sucessão não pode ter início quando o fundador já está prestes a se afastar. Voltaremos ao tema nos próximos artigos.

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Bruno Luis Ferrari Salmeron

Diretor de Operações da Divisão Automotiva da Schulz S.A., vice-presidente do Sindipeças - Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores e coordenador do Capítulo de Santa Catarina do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa