Pobedit, o metal duro nos tempos da União Soviética

Durante as pesquisas para escrever a reportagem sobre o lançamento da primeira ferramenta de metal duro, publicada no mês passado, nos deparamos com um artigo muito interessante que relatava como se deu o desenvolvimento do metal duro na União Soviética.

Para os mais jovens, é bom lembrar que tudo o que era realizado nos tempos da União Soviética era cercado de segredos. 

Para ficar num exemplo, quando o comitê do Prêmio Nobel procurou a URSS para saber quem era o responsável pelo desenvolvimento do primeiro satélite artificial – que deu início à corrida espacial EUA x URSS -, o então líder soviético, Nikita Khrushchev, respondeu: 

“O autor é toda a nação soviética”. Com isso, Sergey Korolyov, o responsável pelo projeto, não recebeu o Prêmio Nobel.

Os autores do artigo, Igor Konyashin e Lev Klyachko, lembram que até hoje a história de muitos ramos da indústria soviética permanece quase desconhecida fora da Rússia, principalmente como resultado do grande sigilo que reinava nos tempos soviéticos.

É o caso da indústria soviética de metal duro que, segundo os autores, chegou a formar um grande complexo com 10 plantas que produziam mais 7 mil toneladas/ano, um centro de P&D e um Departamento de Produção e Tecnologia para a implementação de novas classes de metal duro. 

Esse conjunto empregava perto de 25 mil funcionários, incluindo cerca de 3.000 engenheiros e cientistas.

A produção de metal duro na URSS tem uma história em muitos pontos similar ao que ocorreu no Ocidente. 

Teve início na década de 1920, tendo como base a produção de tungstênio na Moscow Electro-Plant, voltado para a produção de filamentos de lâmpadas – como ocorreu na Osram, aonde primeiro se chegou ao metal duro.

Pobedit

Na Moscow Electro-Plant, GA Meerson e LP Malkov desenvolveram o primeiro metal duro soviético (WC com 10% de Co) e o batizaram com a marca “POBEDIT”, derivada da palavra russa Pobeda, que significa vitória. 

A exemplo do ocorrido com a Widia, logo o Pobedit se tornou um substantivo e ainda hoje é usado por muitas pessoas para designar metal duro na Rússia.

Os autores consideram que o desenvolvimento do Pobedit foi facilitado pela divulgação das patentes do metal duro e da demonstração da “Widia-N”, realizadas pela Krupp Widia numa feira em Leipzig, em 1927. 

Segundo eles, a União Soviética não precisou de uma licença da Friedrich Krupp AG para fabricar materiais de WC-Co porque as patentes foram aplicadas apenas na Alemanha, Grã-Bretanha e EUA e a data de prioridade em outros países foi perdida.

A produção piloto do Pobedit para ferramentas de corte e matrizes para trefilação foi iniciada logo após o seu desenvolvimento em 1929 – apenas três anos depois do início da fabricação de ferramentas de metal duro na Alemanha, lançadas em 1926, pela Widia. 

Já em 1931, quase 16 toneladas de Pobedit foram fabricadas, volume superior à produção total estimada nos países ocidentais naquele ano.

O alto volume de produção está relacionado ao menor custo na URSS, ao contrário do Ocidente, onde a grama de metal duro chegou a custar quase US$ 1 no início da década de 1930, superando o valor do ouro.

Segundo os autores, “o Pobedit foi produzido por mistura/moagem a seco de pós de WC e Co em moinhos de bolas, com uso de água com açúcar como agente plastificante, prensagem a frio e sinterização em fornos de hidrogênio, usando os equipamentos empregados para a produção de tungstênio”.


Novas Classes

A primeira conquista importante da URSS no campo do metal duro se deu no laboratório da Moscow Plant of Rare Chemical Elements, com o desenvolvimento de uma nova tecnologia (patenteada) para a fabricação de misturas de WC-Co, baseada na deposição de Co em pós de WC, que deu origem a classes de metal com teores de 6% a 15% de cobalto.

Essas novas classes foram empregadas a princípio na produção em larga escala de brocas para mineração em 1933, bem antes do surgimento de ferramentas semelhantes no Ocidente, que foram lançadas pela Seco Tools, na Suécia, em 1940. 

Em 1942, a Sandvik iria lançar as brocas para mineração revestidas com metal duro e, dois anos depois, as brocas com pontas de metal duro.

Posteriormente, na URSS, foram desenvolvidas ferramentas com misturas ferro e níquel, batizada de Reniks, amplamente empregados para fabricar núcleos de munição para mísseis. 

A partir de 1935 também teve início a produção de ferramentas com diferentes quantidades de Titânio, Tungstênio e Cobalto, com as marcas “Alpha 21”, “Alpha 15” e “Alpha 5”.

Após a Segunda Guerra Mundial, a capacidade de produção cresceu rapidamente e novas classes e produtos de metal duro foram desenvolvidos e implementados. 

Além disso, foram desenvolvidas pastilhas intercambiáveis ​​de cermet, com um revestimento especial à base de carboneto de cromo, também patenteada pela URSS.

Como resultado, a construção de uma nova planta de metal duro com o mesmo nome da primeira classe soviética de metal duro “Pobedit” foi iniciada em Vladikavkaz, no sul da Rússia, em 1946 e as primeiras classes de metal duro contendo Ti foram produzidas lá em 1947. 

O ciclo tecnológico completo de produção de carbonetos a partir de concentrados de minério de tungstênio foi lançado em 1950. 

Muitas novas tecnologias na época para a fabricação de pós W e WC foram desenvolvidas e implementadas nesta fábrica.

A planta era uma das maiores produtoras de metal duro na URSS, fabricando uma ampla gama de classes ultrafinas e classes revestidas para corte de metal em graus de grão grosso para mineração e perfuração de petróleo e gás. 

Algumas inovações, como, por exemplo, a tecnologia para depositar revestimentos multicamadas CVD resistentes ao desgaste em parâmetros especiais, foram desenvolvidas e implementadas naquela unidade. 

A produção na fábrica, assim como nas demais unidades, diminuiu drasticamente após o colapso da União Soviética em 1991.

Fonte: Antonio Borges - Editor do site Usinagem Brasil

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