Automação e desemprego
Embora se
acreditasse que o crescimento da automação industrial levaria a empregos menos
qualificados - os mais qualificados seriam automatizados por serem mais caros e
cruciais -, geralmente é o inverso que tem-se mostrado verdadeiro.
Ocorre que os
sistemas modernos de fabricação são tão complexos que é necessária uma
habilidade considerável para operá-los.
"Mesmo
máquinas muito avançadas não podem funcionar completamente de forma autônoma;
ainda há uma forte necessidade de um ser humano para supervisioná-las,"
afirma a professora Valeria Villani, da Universidade de Modena e Reggio Emilia,
na Itália. "Os trabalhadores precisam interagir com sistemas muito
complexos, às vezes sob condições difíceis e estressantes, como um ambiente
barulhento ou horários apertados".
Villani é a gerente
técnica do recém-finalizado projeto INCLUSIVE, financiado pela União Europeia,
focado nas necessidades de pessoas com dificuldades para trabalhar com máquinas
automatizadas.
As exigências
desses empregos podem tirar oportunidades de trabalhadores mais velhos ou com
baixa escolaridade, ou pessoas com deficiências. "O objetivo do projeto
INCLUSIVE era criar um ambiente de trabalho inclusivo," disse Villani.
Automação adaptativa
O cerne do esforço
foi o que Villani chama da automação adaptativa: a ideia de que as máquinas
deveriam acomodar as necessidades de seus operadores humanos, e não o
contrário.
Normalmente, os
operadores interagem com as máquinas industriais modernas através de uma tela
sensível ao toque, conhecida como interface humano-máquina (IHM).
"Propusemos mudar o comportamento da máquina e da IHM de acordo com a
condição do trabalhador," explica Villani.
Isso criou uma nova
IHM (interface humano-máquina) composta por três módulos. O primeiro avalia as
habilidades e necessidades de cada trabalhador. Isto é feito através da
construção de um perfil com base na idade e na experiência, mas também
incluindo o monitoramento em tempo real das habilidades perceptivas e
cognitivas, estresse fisiológico e desempenho real na operação da máquina.
O segundo módulo
lida com as adaptações da interface, que podem variar de simples mudanças no
tamanho da fonte, para ajustar a visão, até limites no nível de funcionalidade
que o usuário pode controlar. Em alguns casos, o sistema sugere configurações
padrão para os parâmetros da máquina; em outros, os tipos de alarmes
sinalizados ao operador são adaptados à sua capacidade para poder lidar com
eles.
O terceiro módulo
se concentra no treinamento e suporte. Sistemas de realidade virtual ajudam os
trabalhadores a aprender a usar as máquinas, enquanto o monitoramento em tempo
real detecta quando os operadores estão ficando cansados ou cometendo erros. Em
cada caso, a IHM oferece sugestões e orientações.
Colaborando com as
máquinas
A nova IHM
desenvolvida no projeto foi testada em três empresas. Pesquisas com os
trabalhadores que participaram dos testes mostraram que 80% acharam que as
mudanças os ajudaram a trabalhar melhor com suas máquinas e a serem mais
produtivos, executando tarefas mais rapidamente e com menos erros.
Oito produtos em
potencial foram identificados para comercialização, incluindo metodologias e
software, além da própria plataforma de IHM adaptável. Um dos parceiros teve
resultados tão bons que está "reestilizando totalmente" suas
interfaces de usuário, contou Villani, aproveitando as ideias e descobertas do
projeto, enquanto outros continuam trabalhando nas inovações.
A pesquisadora
acredita que a indústria já está se movendo em direção a uma forma mais
colaborativa de automação. "Embora as máquinas tenham suas próprias
vantagens - elas são muito precisas e confiáveis e podem trabalhar 24 horas por
dia - as habilidades sociais dos trabalhadores humanos também são importantes e
muito difíceis de replicar nas máquinas. A união desses diferentes recursos pode
ser a chave para a prática industrial no futuro."
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