Segundo a Pesquisa Mobilidade 2021, as montadoras passarão a gerar mais receitas com a prestação de serviços e menos com a venda de veículos na próxima década.
O cenário pós-pandemia vai mudar
radicalmente o modelo de negócios da indústria automotiva.
É o que revela a Pesquisa Mobilidade
2021, conduzida por KPMG, SAE Brasil e AutoData.
O modelo baseado em produzir e vender
veículos vai perder espaço: as montadoras passarão a gerar mais receitas com a
prestação de serviços e menos com a venda de veículos na próxima década.
O número de concessionárias também irá
diminuir, como já se observa no momento atual, e as novas tecnologias serão
ainda mais necessárias.
Carros elétricos e veículos por
assinatura, que hoje ainda não fazem parte do cotidiano do brasileiro, devem
chegar para ficar.
Os impactos da crise econômica decorrente da pandemia no
setor são responsáveis pelas mudanças.
Em 2020, houve o fechamento de mais de 95% das plantas
industriais automotivas no primeiro pico da pandemia.
Concessionárias viram a queda do movimento, e o consumidor passou a rejeitar alternativas de mobilidade compartilhada, como bicicletas e patinetes elétricos.
De um lado, muitos voltaram a priorizar a compra de um carro
próprio, gerando um boom na venda de veículos usados e seminovos.
De 2019 para 2021, o percentual dos entrevistados que
comprariam um carro novo caiu de 50% para 44%, enquanto os que vão buscar um
usado subiu de 36% para 40%.
De outro lado, a crise atingiu a produção de insumos, como
borracha, plástico e aço, afetando a capacidade do setor automotivo.
“O resultado da pesquisa reflete a situação econômica atual
do país em que os clientes estão olhando não só o valor do veículo, mas o custo
total de utilização, incluindo o consumo de combustível, emplacamento e
impostos como o IPVA.
São fatores de compra mais racionais do que emocionais”, acredita Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea), entre 2019 e 2020, o total de concessionárias de
automóveis no Brasil subiu de 3.980 para 4.052.
Em 2021, é esperada redução, principalmente devido à decisão
da Ford de deixar de produzir veículos localmente.
Sozinha, ela respondia por 287 concessionárias, e deverá
permanecer com cerca de 125. A pesquisa mostra que a maioria dos entrevistados
acredita que o total será reduzido de 10% a 30% na próxima década.
“A digitalização os novos hábitos de consumo exigem que o modelo de distribuição se adeque à realidade. A tendência é que os showrooms fiquem cada vez menores e sejam mais digitalizados, e o foco da operação fique cada vez mais para a área de pós-vendas”, avalia Mauro Correa, presidente da CAOA Montadora.
Vacinação e corte de custos para contornar a crise
Avançar na imunização contra a covid-19 foi considerada por
83,1% dos entrevistados a principal medida a ser tomada pelo governo para
garantir a retomada dos negócios no setor automotivo.
Já dentro das empresas, a redução de custos foi elencada
como principal resposta à crise por 53,4% das pessoas que responderam à
pesquisa.
Transformação digital e de serviços no setor
Tecnologias para redução de custo e de transformação digital
despontaram como critérios extremamente importantes para definir a destinação
de investimentos.
O aperfeiçoamento da eficiência energética dos motores
também está na lista de prioridades. Veículos elétricos e tecnologia da
gestão/integração com fornecedores também se destacaram entre as sugestões para
o futuro desta indústria.
Em comparação com a pesquisa de 2019, a importância do uso
de tecnologia para redução de custos subiu de 59,8% para 63,5%, considerado de
extrema importância.
Já a cooperação com indústrias convergentes foi apontada
como a melhor estratégia para obtenção de sucesso das empresas, seguida por
parcerias/alianças estratégicas.
A maioria dos profissionais do setor automotivo concorda que
o atual modelo de negócios vai mudar radicalmente no Brasil nos próximos dez
anos, e o caminho indicado é o do aumento da receita com serviços.
“O fato de observarmos diversas montadoras passando a
oferecer veículos por assinatura – prática inexistente em 2019, mas apontada
como desejada por 80% dos consumidores entrevistados na pesquisa daquele ano –,
demonstra claramente o desejo da indústria em diversificar suas receitas”,
avalia Ricardo Bacellar, líder do setor de Industrial Markets e Automotivo da
KPMG no Brasil.
A oferta de serviços de assinatura é bem vista por mais da
metade dos entrevistados, enquanto cerca de um terço respondeu não conhecer
este tipo de serviço – o que demonstra oportunidade de grande potencial de
negócio para a indústria, segundo o estudo.
O resultado aponta ainda que esta modalidade requer um maior
esforço de comunicação para ser descoberta: pode funcionar bem para os
consumidores que ainda não têm um carro ou para aqueles que desejam
experimentar novas marcas, modelos ou tecnologias, como os elétricos.
Meio ambiente em foco
Indústria e consumidores têm uma visão comum no que diz
respeito à mobilidade sustentável: ambos apontaram que um cenário ideal teria
veículos com emissão zero de carbono fabricados e abastecidos a partir de
fontes renováveis.
Esse quadro representa um anseio dos consumidores –
particularmente dos mais jovens – que vem sendo percebido e absorvido pela
indústria.
“Os resultados da pesquisa não chegam a surpreender: a
descarbonização é um tema muito importante hoje. O veículo híbrido vai nessa
direção.
Os elétricos ainda são caros, mesmo os menores. As
montadoras já estão trabalhando em ofertas para atender as metas de eficiência
e há vários projetos no sentido dos híbridos, especialmente em conjunto com o
uso do etanol, que em si é até mais descarbonizante do que os 100% elétricos”,
explica Besaliel Botelho, presidente e CEO da Robert Bosch Latin America.
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