Vale o que se paga? O longo caminho para chegar ao custo final dos moldes

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Muito se questiona no Brasil quanto o valor final dos ferramentaisAfinal de contas, como surge o preço de um ferramental? Como ele é formado e o que é levado em consideração durante esse processo? 


Tal discussão nos leva a um dos principais pontos do comércio, a importação, tema que gera polêmica entre os industriais em todo o país. 


Enquanto uns acreditam que importar seja algo saudável para a nação, outros a abominam por temerem a desindustrialização do Brasil. Como em qualquer tipo de negociação, existe um lado bom e outro ruim, independente de se importar ou produzir dentro do próprio território.

 

Cada detalhe conta $$

 

Sejam eles quais forem- injeção, sopro, compressão, termoformagem, ferramentas de extrusão, embutimento, corte e dobra, estampos ou qualquer outro dispositivo de conformação de materiais - os moldes demandam diversos custos, que estão envolvidos tanto na compra quanto na sua fabricação.

 

Além disso, acrescenta-se à soma etapas como projeto, planejamento, matéria-prima, processos de tratamento térmico e superficial e os testes de validação e aprovação. 


E para engordar mais um pouco o valor final, são levados em consideração os gastos indiretos, como transporte, despesas comerciais e administrativas, alterações no design do produto e o retrabalho para adequá-lo às normas de produção ideal.

 

O custo total de um molde ou ferramental, porém, não se limita apenas ao preço de compra inicial. Seu montante final provém dos seguintes itens:

 

- Custo de produção ou preço de compra: pode ser facilmente determinado e baseia-se no orçamento proposto pelo fornecedor. Seu acompanhamento também é simples por estar vinculado às regras do negócio e fundamento em contrato de compra e venda.

 

- Custo de manutenção: por depender de fatores técnicos, é extremamente subjetivo, não podendo ser previsto com exatidão. Isso dificulta sua formação, visto que envolve também a construção do molde e os cuidados na sua utilização pelo usuário final.

 

Entretanto há uma parcela que depende do fator humano, que não é previsível e pode significar o desembolso de quantias elevadas de recursos financeiros por custos de correção, de perda de produção ou até mesmo de imagem e credibilidade junto ao cliente. Portanto, todos os detalhes do processo influenciam diretamente no custo, conforme detalhado abaixo:

 

O custo de produção começa na intenção de compra e venda e termina na entrega do molde, abrangendo:

 

- Visitas aos potenciais clientes e investimentos em publicidade;

- Realização de orçamento e envio de propostas;

- Negociação, pedido de compra, contrato de compra e venda;

- Custos financeiros;

- Fabricação, incluindo projeto, planejamento de fábrica, programação de usinagem, salários e encargos trabalhistas, máquinas e equipamentos, ferramentas e dispositivos, consumo de energia elétrica e água, lubrificantes e fluidos de corte, manutenção de máquinas e equipamentos, matérias primas e componentes e procedimentos de controle da qualidade;

- Custos indiretos com administração, espaço físico, vigilância e limpeza, segurança do trabalho jurídico, seguro, taxas e impostos;

- Garantia do serviço/produto;

- Pós-vendas.

 

Estes custos se resumem, em média, a cinco componentes, Custo de manutenção é o conjunto de ações para atingir os objetivos previstos a partir da definição dos indicadores que serão utilizados para quantificar tais objetivos. Eles envolvem custos com:

 

- Racionalização da mão de obra própria e da contratação de serviços de terceiros;

- Qualificação e motivação da mão de obra;

- Controle de materiais e sobressalentes de manutenção;

- Sistema de planejamento, programação e controle de manutenção;

- Sistemáticas de manutenção preventiva, inspeção e manutenção preditiva;

- Planos periódicos de paradas programadas;

- Controle de custos;

- Sistema de padrões de manutenção (normalização);

- Engenharia de manutenção em geral, como apoio à manutenção de área;

- Controle gerencial integrado de todas as funções de manutenção;

- Melhorias nos equipamentos em final de vida, obsoletos ou eliminação de pontos críticos;

 

Vale considerar que a maior parte das estratégias empresariais de manutenção visa, primordialmente, diminuir os custos e melhorar a confiabilidade operacional ou da gestão dos ativos. 


Existe ainda o termo balanced scorecard, que remete à manutenção estratégica como forma de gerar resultados para a corporação.

 
E no fim das contas...

 

Tratando-se de um cenário no qual o preço final depende das duas variáveis mencionadas acima e o objetivo final é gerar lucros, estes são calculados pela diferença entre o preço da venda e o custo para produzir e vender. 


Daí importância de incluir a manutenção no valor final do produto, uma vez que a peça sem qualidade, e consequentemente mais barata, demanda maiores gastos com correções ao longo de sua vida útil.

 

Importar ou não?

 

A ideia de que adquirir moldes no exterior vale mais a pena é bastante difundida no Brasil, pois seu valor pode ser até 40% mais baixo que o do comprado em território nacional. 


O economista e consultor Waldir Dagostin esclarece que com o elevado custo Brasil, os preços propostos visam apenas um “repasse de custo para a sobrevivência”. 


“Ano a ano este percentual (de lucro) vem reduzindo drasticamente, pois os preços estão caindo e os custos subindo”, afirma Dagostin, explicando que atualmente a representatividade da quantidade de horas disponíveis em relação às horas efetivamente trabalhadas demonstra um custo crescente em função da baixa taxa de ocupação.

 

Por outro lado, importar nem sempre é a melhor opção, pois os moldes fabricados no exterior geralmente demandam maior manutenção do que os feitos aqui. 


Isso implica em despesas que muitas vezes ultrapassam no valor economizado na compra, além de desconfortos com um produto de qualidade inferior. 


Além disso, há alguns fatores que interferem negativamente na importação, como dificuldades com o idioma do país de origem do ferramental, a distância geográfica que colabora para impedir a boa comunicação, e por fim, até mesmo os gastos com a viagem, que acabam por descartar qualquer tipo de economia. 


A esses itens somam-se os retrabalhos gerados pela falta de teste no local da aplicação do molde, os problemas com manutenção à distância; possíveis alterações no projeto inicial que podem requerer um novo modelo de molde, entre outros.

 

Entende-se, portanto, que a ideia de importar moldes pode ser ilusória, caso leve-se em conta as situações citadas acima. Já para adquiri-los no Brasil, há questões financeiras, burocráticas e operacionais que podem ser positivas ou negativas. Entre elas estão:

 

- O crédito de impostos (inexistente em outros países) que aumenta o valor do molde;


- A demanda pelo acompanhamento profissional na construção do molde, o que gera mais custos para a empresa que abre mão de horas de um funcionário que poderia estar realizando horas rentáveis de trabalho;


- Não há preocupações com a grande burocracia alfandegária;


- Com a importação ocorre a degradação do potencial tecnológico de nossos profissionais, uma vez que isso deixa de ser uma demanda se todos adquirem apenas produtos importados. Tal quadro pode gerar desemprego e atraso no avanço econômico do país;


- A responsabilidade técnica exigida no Brasil gera obrigações que resultam em despesas que são aplicadas no valor final da mercadoria. Porém esse mesmo dever se converte em vantagens para o cliente, pois ele pode contar com a proteção de profissionais e órgãos fiscalizadores.

 

Relação comprador e vendedor

 

Quando o assunto é comprar e vender no Brasil, há uma discussão em torno de quem determina o preço final do molde. Na opinião de Dagostin, toda e qualquer empresa de porte tem seu custo interno, mas a palavra final é do cliente: “Dessa forma, o dispêndio interno em negociações tende a balizar preços e muitas vezes, o cliente é quem dita o preço que está disposto a pagar. Se é justo ou não, é uma questão de oportunidade e necessidade”, afirma.

 

Este método de transação se dá, principalmente, devido ao fato da oferta de trabalho ser muito maior que a demanda. Assim, os fabricantes se tornam reféns do mercado. 


Dagostin aconselha que, para não saírem prejudicados na negociação com o cliente, eles devem implantar um sistema de custo totalmente eficaz que aponte, além do custo de cada setor, a quantidade de horas a serem utilizadas. “Já para matéria-prima e serviços terceirizados, é recomendável manter esta projeção e um efetivo controle do processo”, explica.

 

“O cliente é quem dita o preço que está disposto a pagar. Se é justo ou não, é uma questão de oportunidade e necessidade” -Waldir Dagostin

 

Segundo o economista, para tentar manter o controle dos custos, a empresa deve calcular corretamente os gastos em cada setor, assim como a quantidade de esforço despendido em cada OS (ordem de serviço), ou seja, as horas efetivamente trabalhadas. 

“Os encargos sociais e suas provisões, além dos diversos tipos de impostos tanto nas compras quanto nas vendas, requerem atenção especial”, alerta Dagostin.

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Marcela Mayrinck

Possuo formação em Jornalismo, várias experiências de estágio, trabalhando com público e informações, incluindo trabalhos com Marketing. Morei durante 1 ano e sete meses na República da Irlanda, onde realizei cursos de Inglês e de Administração com ênfase em Marketing. Tal experiência foi válida não só pelo currículo, com a oportunidade de realizar trabalhos semelhantes à minha área em outro país, como também pelo conhecimento de novas culturas e crescimento pessoal. Meu objetivo profissional é atuar e crescer na área de Comunicação Social e Marketing, em busca de aperfeiçoamento profissional e do desenvolvimento da empresa para a qual prestarei serviços.