Para as ferramentarias , competir nos mercados da indústria do plástico exige, obviamente qualidade, precisão e preços competitivos. Entretanto, tudo isso pouco adianta se a empresa perder no prazo. Flexibilidade para se adaptar às necessidades mais urgentes do cliente também é fundamental.
Essas premissas refletem no planejamento estratégico da empresa, que irá exigir ferramentais mais versáteis e até máquinas multitarefas, com cinco ou mais eixos programáveis, a fim de usinar uma peça completa em uma única fixação, por exemplo. Máquinas, sistemas computacionais, ferramentas e instalações, no entanto, o dinheiro compra. Mas onde encontrar profissionais qualificados para fazer tudo funcionar a contento?
O Contexto Setorial
A situação de muitas ferramentarias nacionais é bastante desafiadora. Há casos em que uma concorrente, do outro lado do Atlântico, obtém o pedido; elabora o processo; fabrica; fatura e consegue colocar o molde em solo brasileiro em prazos menores do que os fabricantes locais.
Principalmente no caso dos moldes de grande porte. Em geral, moldes mais sofisticados e de maior valor agregado, ficando para as ferramentarias locais os moldes de menor importância e que não alavancam um faturamento mais confortável do ponto de vista dos resultados operacionais.
A superioridade externa não vem apenas de um parque de equipamentos mais atualizados. Nesse mercado quem ainda mantém as portas abertas é porque conhece o assunto e sabe muito bem como fabricar um molde.
Aos brasileiros faltam investimentos nos mesmos tipos de recursos em termos de máquinas, equipamentos, softwares e aplicativos, que possam racionalizar e acelerar todo o processo.
As empresas mais competitivas desse segmento são extremamente digitalizadas. Valem-se da inteligência artificial para definir as melhores estratégias de fabricação, envolvendo projetos, processos, definição dos parâmetros de corte para usinagem, programação CNC otimizada, bancos de dados, monitoração de resultados, etc. Nenhum especialista, sem esse tipo de apoio conseguirá ser tão eficaz.
Por último, mas não menos importante, há no mercado local uma escassez de profissionais qualificados, tanto para gerir, quanto para operar a fábrica.
O custo inicial de máquinas e equipamentos de alto rendimento, tanto quanto os de sistemas CAD , CAM , CAE e PDM assusta muitos empreendedores, além da dificuldade de se recrutar, selecionar e contratar profissionais especializados à altura de tais investimentos.
Ocorre que, sem isso, será muito difícil sair da marginalidade do mercado. Com certeza, exige coragem e só quem percebeu, acreditou, investiu e venceu sabe o quanto isso é verdade.
Dentro desse cenário, o SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, assumindo seu importante papel tanto na formação de jovens profissionais, quanto na atualização dos já atuantes no mercado, entendeu que não bastava dourar a pílula. Ou seja, revisar os velhos paradigmas não seria suficiente, assim como não dá certo colocar remendos de pano novo em roupa velha.
Para tanto, contou com as recomendações de especialistas do segmento, como Vincenzo Senatore (consultor) e Christian Dihlmann (presidente da ABINFER - Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais), obtidas em diversas reuniões de planejamento (figura 1).
Figura 1 - Reunião de
aconselhamento da equipe envolvida no projeto.
Também, foi ao mercado ouvir as reclamações das indústrias do segmento – tanto fabricante quanto consumidor, para entender as principais carências e expectativas a serem atendidas pelos novos cursos, que já se encontram disponíveis para a comunidade.
Três unidades foram selecionadas para o projeto: Escola SENAI Mario Amato - São Bernardo do Campo; Escola SENAI Celso Charuri - Guarulhos e Escola SENAI Conde Alexandre Siciliano - Jundiaí, todas no estado de São Paulo.
Os novos cursos estão focados na formação de mecânicos de usinagem, projetistas e construtores, todos voltados para a manufatura de moldes para transformação de termoplásticos. O planejamento foi direcionado a formar ou atualizar profissionais, para serem capazes de render o que a indústria necessita, em termos de qualidade, produtividade, comportamento e atitude, na intensidade certa e no momento certo.
Entre as novidades mais significativas, destacam-se as seguintes.
Instrutores
Os instrutores desses cursos passaram por um processo de capacitação de 6 meses contínuos e foram habilitados a treinar e transferir conhecimentos nas seguintes áreas:
• Desenho CAD - 3D;
• Metrologia;
• Máquinas convencionais;
• Programação CNC - Manual (torneamento e fresamento);
• Programação CNC∕CAM∕2,5 eixos;
• Programação CNC∕CAM∕3 a 5 eixos - superfície;
• Usinagem por eletroerosão - Penetração e fio;
• Desenvolvimento das qualidades pessoais;
Materiais utilizados
As peças usinadas nos exercícios práticos são produzidas com materiais de uso corrente nas ferramentarias, tais como P20, VND, Cromo Níquel e Inox 420.
Série metódica
As peças a serem executadas foram inspiradas em moldes reais da indústria do plástico, valendo-se de modelamento em software 3D e usinagem do conjunto (macho e matriz) em máquinas CNC (figura 2).
Figura 2 - Conjunto de cavidades/machos
Essas peças e conjuntos utilizados na capacitação dos instrutores (figura 3) serão as mesmas realizadas pelos alunos nas aulas práticas.
Figura 3 - Instrutores em capacitação
Simulação
Todos os programas são validados por simulação (figura 4), para evitar tempos improdutivos nas máquinas com tryouts , que costumam servir para prevenir colisões ou eventuais erros de processo. Na indústria moderna não há protótipos, tudo dever ser feito certo na primeira vez.
Figura 4 - Simulação
computacional de usinagem.
Laboratórios
A capacitação dos treinandos conta com laboratórios (figura 5) e utilização de softwares dedicados para modelamento e detalhamento das peças a serem usinadas, com programação CAM para centros de usinagem e tornos CNC. Tudo com foco na otimização de tempos e custos, contemplando sempre a estratégia que se apresentar como a mais competitiva.
Figura 5 – Laboratório de capacitação técnica.
Assessoria
Várias indústrias e entidades de ponta contribuíram para a montagem de um material didático, o mais atualizado possível, incluindo catálogos e manuais, sendo que algumas patrocinaram parte do projeto com a doação de softwares, ferramentas, equipamentos, insumos e assessoria técnica.
Entre essas empresas e entidades, citamos algumas: ABINFER, Blaser, Dormer, Haimer, Iscar, OSG, Renishaw, Sandvik, Schunk, Seco, Top Solid, Walter, entre outras.
Avaliação dos instrutores
As peças produzidas pelo corpo docente foram submetidas a avaliações tridimensionais e inspecionadas (figura 6) por Vincenzo Senatore (um dos maiores especialistas em moldes plásticos do Brasil) o qual fez suas recomendações sobre pontos de melhoria instrutor por instrutor.
Figura 6 – Auditoria
detalhada - Vincenzo Senatore.
Material didático
Foi elaborada uma nova coleção de livros e manuais (figura 7) para dar suporte a implementação de novas tecnologias. Todo o material didático conta com comunicação visual atrativa e muitas referências desenvolvidas junto às empresas do setor. O projeto contou com a boa vontade e colaboração de especialistas, instrutores e o apoio de empresas que acreditam no potencial industrial do país.
O progresso depende, necessariamente, de uma educação profissional de alta qualidade.
Figura 7 – Coleção de novos livros didáticos.
Infraestrutura e leiaute
A elaboração de um novo arranjo físico de equipamentos (figura 8) observou as tendências mundiais de organização do chão de fábrica visualizando a melhoria do fluxo de produção.
Figura 8 - Arranjo fabril
atualizado.
Planejamento pedagógico e carga horária
Um dos quesitos fundamentais foi o balanceamento entre teoria e prática. Os alunos terão muito mais tempo de prática de modo geral.
A carga horária foi estabelecida de modo a ser suficiente para formar um profissional pronto para gerar resultados. Na figura 9 está apresentado o novo desenho da ementa e da carga horária.
Ampliação do escopo de conhecimentos
Os alunos terão a oportunidade de entender melhor todos os elementos que influenciam a produção de um molde.
Conceitos
• Estudo do produto;
• Injetoras para plásticos;
• Polímeros – Materiais plásticos;
• Projeto do produto;
• Projeto do molde;
• Planejamento do processo de construção do molde.
Aplicação
• Projeto do molde;
• Construção do molde.
Softwares avançados
A tecnologia dos softwares 3D favorece a otimização de tempo na interpretação do projeto, favorecendo o aprendizado dos alunos (figura 10).
Figura 10 - Visualização da montagem do molde.
Viabilizam analisar diversos detalhes, como o preenchimento do material dentro de uma cavidade de molde com seus respectivos comportamentos em relação a tensões, contrações, empenamentos, alinhamento da cadeia polimérica, saída de gases, e outros requisitos (figura 11).
Figura 11 - Simulação do
preenchimento das cavidades do molde.
Também permitem uma visualização geral do molde, sendo possível à aplicação de diferentes cortes conforme necessidade do detalhamento (figura 12).
Figura 12 – Visualização
de cortes do molde.
Outro recurso da tecnologia dos softwares 3D é o da geração de uma cinemática, sendo possível demonstrar todos os componentes do molde em movimento, em sua sequência de montagem.
Capacidades Socioemocionais
Com o propósito de aprimorar as competências socioemocionais, tais como espírito de equipe, organização, disciplina, força de vontade, liderança, ética, proatividade, criatividade, entre outros valores, os alunos desses cursos, também fazem leituras complementares, fora do horário de aula, com livros indicados e adquiridos pelo SENAI (figura 13).
Após a leitura, realizam apresentações no modelo de mapa mental, daquilo que aprenderam com tais livros.
Figura 13 – Recomendações
bibliográficas.
Bibliografia complementar
Como se sabe, a tecnologia de fabricação está em contínuo desenvolvimento e é muitas vezes mais rápida do que nossa capacidade de absorve-la. Por isso é que se diz que na concorrência do passado o grande vencia o pequeno, porém, hoje o rápido vence o lento.
Atualizar-se é uma condição inegociável. Portanto, toda empresa que anseia desenvolver-se em pé de igualdade ou superar seus concorrentes mais competitivos, precisa investir na busca de tudo quanto possa contribuir para o alcance dos melhores índices de produtividade.
Oferecer qualidade é algo esperado e mínimo para cativar um cliente. Excelência e velocidade no atendimento ainda são grandes diferenciais. Para tanto, máquinas e equipamentos são sim muito importantes, tanto quanto o é o fator humano que dará ritmo a tudo isso.
O empresário necessitado de um menor aprendiz, um jovem profissional tecnicamente bem formado ou carente de atualizar os conhecimentos de algum de seus profissionais já efetivos, encontrará no SENAI a melhor solução, que pode tanto estar pronta, quanto ser desenvolvida sob medida.
Por outro lado, o jovem que planeja uma carreira técnica promissora, fará um ótimo investimento estudando para ser um mecânico de usinagem, um projetista ou um construtor de moldes, pois a indústria de transformação do plástico brasileira é uma das que mais emprega no país.
Segundo o Sindiplast (Sindicato da Indústria de Transformação e Reciclagem de Material Plástico do Estado de São Paulo), a indústria de transformados plásticos é o 2º maior empregador dentro dos setores das indústrias de transformação e o 3º setor, dentre os cinco maiores empregadores, que paga os melhores salários.
Há anos que sobram profissionais para as áreas administrativas e faltam técnicos para os setores produtivos. Vale lembrar que as pessoas recebem pela sua raridade e não pela sua importância ou disponibilidade.
Mecânicos especializados em usinagem, projetistas ou construtores especializados em moldes para plásticos são raros e, portanto, a possibilidade de que alcancem uma boa estabilidade financeira, em bem menos tempo, é bem maior.
Além disso, trata-se de um segmento que estará em evidência pelos próximos trinta a quarenta anos.
Venha participar!
Informe-se melhor consultando os sites das escolas:
• SENAI Mario Amato - São Bernardo do Campo, SP - fone (11) 4344.5000;
• SENAI Celso Charuri - Guarulhos, SP - fone (11) 2088.7120;
• SENAI Conde Alexandre Siciliano - Jundiaí, SP - fone (11) 4523.6400.
O futuro que desejamos para amanhã, está diretamente atrelado as escolhas que fizermos hoje.
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Francisco Marcondes
Gerente Regional Norte do SEBRAE SC, formado em Ciências Econômicas e Direito, com especialização em Direito e Gestão Empresarial atuando no SEBRAE há 25 anos.