Ter coragem para tomar decisões é vital tanto na vida profissional quanto pessoal. Entretanto, uma boa dose de prudência é altamente recomendada para garantir a escolha mais indicada.
Nós humanos tomamos decisões o tempo todo em nossas vidas. Desde coisas simples até aquelas que irão impactar em nosso futuro, como abrir um negócio próprio, a escolha de uma carreira profissional, se e com quem iremos casar e se teremos filhos ou não.
Quando há mais de uma opção teremos que fazer escolhas e nem sempre elas são tão fáceis, pois envolvem a busca de equilíbrio entre a razão e a emoção. Algumas pessoas são mais capacitadas para fazerem isto, por serem emocionalmente mais estáveis e seguras e outras precisam de ajuda em muitas circunstâncias. Estudos feitos recentemente por neurocientistas comprovam que uma decisão não é influenciada somente por fatos e dados e que aspectos emocionais são altamente impactantes.
Pessoas mais autocentradas e pouco vulneráveis se sentem mais confiantes no momento de tomar uma decisão, o que não acontece com aqueles que muitas vezes precisam buscar ajuda em razão de determinadas características de perfil.
É normal que aqueles que naturalmente têm perfil de liderança são mais hábeis nesta situação, pois possuem a condição de percepção mais aguçada e também um nível de coragem e dinamismo mais altos.
Pesquisadores concluíram que os instintos devem ser ouvidos no momento da tomada de decisões, ao contrário do que muitos afirmam. Diversos estudos foram feitos neste sentido. Um deles, na Universidade de Amsterdã, concluiu que as escolhas feitas de forma rápida baseadas na intuição foram as mais acertadas. Outro estudo, realizado na Universidade de Princeton, concluiu que em menos de um segundo fazemos julgamentos sobre confiabilidade e eles têm grande importância na difícil tarefa de se tomar decisões.
Nossa capacidade cognitiva é crucial em todos os desafios. Utilizamos a mente especialmente para executar atividades complexas e o cérebro precisa de combustível para trabalhar de um jeito mais inteligente. A hidratação é um fator importante, pois ativa a circulação sanguínea e nos deixa mais atentos. É aconselhável não tomar decisões quando estamos emocionalmente fragilizados. A agressividade, a ansiedade, o nervosismo e a irritação podem fazer com que tomemos decisões precipitadas. Os neurocientistas alertam também para que não sejam tomadas decisões quando estamos com fome ou em ambientes desconfortáveis.
Se instintivamente você tem dúvidas, sempre é bom pensar um pouco mais. Neste momento, o seu inconsciente que é mais carregado de informações, ativa memórias e manda recados para que você fique atento, tome cuidados ou pense um pouco mais.
Não sabemos tudo e precisamos buscar ajuda em muitos casos, especialmente em questões organizacionais. É preferível buscar apoio a tomar a decisão errada. Lembrando ainda que pessoas que estão no comando, àquelas que têm poder, devem aprender a ouvir os especialistas. Alguns líderes, particularmente aqueles que são do tipo “mandão”, não aceitam que os outros tomem decisões e metam o dedo, mesmo quando não são chamados.
A decisão implica também em determinadas competências. Uma delas está relacionada à capacidade de comunicação e ainda a de observar o contexto. É preciso compreender o mundo em que estamos vivendo, suas perspectivas e tendências e, logicamente, o ambiente empresarial, quando for o caso. Estes são fatores importantes, pois toda decisão é tomada em um determinado ambiente.
Este ambiente a ser compreendido é complexo em razão das mudanças bruscas que ocorrem em todo e qualquer cenário, por isso devemos analisar não somente situações específicas e próximas, mas também o ambiente macro que de forma geral pode representar ameaças. A situação econômica e suas perspectivas são indicadores que precisam ser sempre analisados, além de situações mercadológicas específicas.
O sucesso do passado
Nem sempre o que deu certo no passado garante a mesma situação positiva no presente, quando vivemos em ambientes de constantes e profundas mudanças. É preciso, portanto, estar atento à atualização dos fatos. Em muitos casos a informação de ontem é diferente da informação de hoje e certamente ocorrerá o mesmo com o amanhã.
Prioridades
Uma das decisões mais comuns que fazemos rotineiramente é a definição de prioridades. Nunca esta habilidade foi tão importante, pois estamos o tempo todo com inúmeras atividades para realizar. Qualquer executivo, empresário e até mesmo profissionais de diversas áreas estão o tempo todo pensando sobre o que fazer primeiro.
Saber definir prioridades é também saber tomar decisões. Nesta situação é importante ter uma visão ampla e sistêmica para definir o que é mais importante e impactante. Por exemplo, para tomar a decisão em relação à demissão de um profissional em determinado setor da empresa, o cenário a ser avaliado é a organização (empresa) em si. Para abrir uma filial em outro país, o cenário é mais amplo, por isso, devem ser levados em consideração os aspectos mercadológicos sobre o ambiente da nova instalação. Neste caso, a análise é mais profunda e necessitará de um volume de informações mais completo.
Quando você estiver nesta situação, analise prioridades, veja o que realmente é essencial e observe as possíveis consequências, além, é claro, de ouvir com atenção a sua intuição. Enquanto seu inconsciente não se sentir confortável não seja definitivo. Dar um tempo, quando isto for possível, pode trazer grandes benefícios.
As decisões mais rápidas, em geral, são intuitivas e algumas precisam ser bem programadas. Em ambas, uma boa dose de coragem é fundamental. Decidir implica em assumir responsabilidades e nem todos se sentem confortáveis nesta condição. O medo, por exemplo, é um determinador.
É importante também observar o seu padrão de altivez e ficar atento para não demorar demais em rever uma decisão que foi tomada e que tenha trazido arrependimento. Quando isto acontecer é preciso ser humilde para reconhecer o erro e voltar atrás o mais rápido possível.
Ter duas opções é mais racional
Há um paradigma de que é mais fácil escolher quando temos três opções. Estudos recentes concluíram que a melhor situação é termos apenas duas opções. Em razão disto, sempre que possível, diminua o número de opções, seja na escolha de um candidato para uma vaga ou na compra de uma máquina, automóvel, casa ou apartamento.
Algumas orientações de especialistas na árdua tarefa de tomar decisões são divergentes. Enquanto um grupo afirma que a razão é essencial, outros defendem que somos envolvidos por paixões e interesses subliminares. Cabe a você pensar sobre isto e em sua experiência de vida analisar o que é mais positivo e coerente.
Decidir implica em ganhos e perdas. Não continue pensando naquilo que foi deixado de lado em razão de sua escolha. Ao decidir foque nas perspectivas positivas de suas escolhas. Algumas pessoas são mais conservadoras em sua forma de agir e, em consequência, são mais sistemáticas e analíticas. Neste caso elas preferem utilizar técnicas e informações mais acadêmicas.
Conceitos básicos
Vamos a alguns conceitos básicos:
Tomador de decisão
O tomador de decisão tem um papel fundamental nas empresas, pois o processo decisório deve possibilitar a empresa a otimização de recursos, ganhos financeiros, redução de custos, melhoria do desempenho das pessoas, ganhos de produtividade e ampliação do mercado.
Outra situação a ser analisada é o tempo necessário para que uma decisão seja tomada. No contexto atual altamente competitivo, a velocidade pode determinar o sucesso ou o fracasso, resultados de uma decisão.
Classificação das decisões
As decisões podem ser classificadas em:
• Decisões Programadas - são aquelas que ocorrem em contextos repetitivos e estruturados como na definição de objetivos e metas organizacionais, normas, políticas, procedimentos e práticas organizacionais.
• Decisões Não Programadas - ou inéditas, são aquelas que não são previsíveis. Elas são caracterizadas pela novidade, ou seja, não existem referências anteriores para a solução do problema em razão de sua complexidade. Por este motivo são necessárias medidas específicas em relação ao assunto e a busca de informação é uma parte do processo que merece a maior atenção. As capacidades de compreensão e de escolha são desafiadas a todo instante no processo de decisão não programada, pois, nestes casos, em geral, o cenário é de incertezas ou de dúvidas. A percepção da realidade dos fatos é essencial, de modo que os objetivos organizacionais sempre devem ser levados em consideração. Uma decisão coerente e correta deve ser pautada pelo uso adequado de informações.
Modelos de tomada de decisões
Antes, os modelos de tomada de decisão tratavam o processo decisório como uma questão racional. Neste modelo, o processo deveria ser baseado na racionalidade e adaptado aos cenários em que as organizações estavam inseridas.
Com o tempo, os modelos passaram a ser questionados, permitindo aos profissionais que precisam tomar decisões fazerem a melhor escolha, de forma mais flexível e adaptável à realidade da organização.
Desta forma, os tomadores de decisão passaram a fazer a melhor escolha diante dos limites de conhecimento do problema a ser resolvido como, por exemplo, a falta de informações.
São estas os modelos de tomada de decisão mais atuais:
• Modelo racional - fundamentado na teoria microeconômica neoclássica. Neste modelo, a racionalidade é fator fundamental para a tomada de decisão e exige que a organização seja observada de forma sistêmica, considerando o cenário no qual ela está inserida. Também devemos levar em conta a sua cultura e uma gama de alternativas possíveis, de modo a ponderar as consequências que podem vir a ocorrer, antes da decisão ser tomada. Este modelo leva o tomador de decisões à escolha da melhor solução para alcançar os objetivos pretendidos. O processo de escolha racional demonstra as limitações do ser humano, conduzindo o tomador de decisões a não fazer mais escolhas que levem à rigorosidade nos resultados, mas levem, sim, a resultados aceitáveis, dentro das metas organizacionais;
• Modelo de racionalidade limitada - preconizado por Herbert Simon , Prêmio Nobel de Economia, trata da impossibilidade de ter acesso a todas as possibilidades de ação para conseguir avaliar todas as alternativas possíveis. Neste modelo, apesar de desejar agir com racionalidade, as ações são limitadas pela reduzida gama de informações necessárias para o processo decisório ou pela incapacidade de assimilação de todas as informações. Neste caso, as soluções são escolhidas por meio do processo de estabelecimento de regras, conforme os objetivos dos envolvidos;
• Modelo incrementalista - não existe apenas uma decisão correta, mas uma série de tentativas selecionadas por análises e avaliações, sendo que as ações são tratadas de maneira flexível até atingir o grau desejado. As ações diferem das anteriormente utilizadas, corrigindo ou evitando erros pelas sucessivas mudanças incrementais. Isto faz com que a organização possa ser levada a um novo curso de ação. Durante o processo, o curso de ação e os objetivos organizacionais podem mudar, no entanto, as mudanças podem ser efetuadas de forma mais amena, fazendo com que ações corretivas possam ser tomadas no momento em que o erro é detectado;
• Modelo desestruturado - este modelo foi proposto por Mintzberg , que denominou as decisões não programadas de decisões desestruturadas ou não previsíveis. Quando se deparam com dificuldades, as organizações reavaliam as alternativas e voltam atrás até que seja possível tomar a decisão final. O processo decisório, neste modelo, tem um alto nível de incerteza, sendo chamado de desestruturado em função das constantes mudanças.
Alguns passos para racionalizar a tomada de decisão
Como já comentamos a difícil tarefa de tomar decisões tem uma série de nuances que começa com o perfil de cada um, a percepção da realidade e do ambiente e o nível de poder, quando se trata de contextos organizacionais ou sociais.
Embora existam várias teorias e formas nas quais se baseiam os tomadores de decisões, as organizações, em geral, seguem os seguintes passos:
• Expor o problema ou desafio;
• Fazer um esqueleto do problema e relacionar suas partes, com o objetivo de compreender os fatos;
• Montar o problema de forma técnica;
• Fazer uma simulação ou teste do modelo e das possíveis soluções;
• Determinar e delimitar uma forma de controle sobre a situação;
• Colocar em prática a melhor solução possível.
Existem muitas orientações e técnicas, no entanto não podemos esquecer que decidir é um ato que envolve racionalidade e emoção. Em razão de perfil, algumas pessoas tem mais facilidade pra tomar decisões e outras nem tanto. Não podemos generalizar nesta ou em qualquer outra situação. O que pode ser fácil para alguns, pode ser extremamente complicado e desafiador para outros.
Tenha coragem para tomar as decisões que são importantes em sua vida, mas não relute quando precisar de ajuda. Se apesar da ajuda ainda persistirem dúvidas e aquela mensagem vinda do inconsciente disser para você pensar mais um pouco, faça o que é mais coerente: pense.
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Pedro Luiz Pereira
Professor, consultor, executivo da ABINFER e sócio proprietário da EURHO Consulting. Especialista em Neurociência e Neurocoaching, MBA em Gestão da Qualidade e Produtividade e em Gestão de Pessoas. Autor do livro “Tomada de Decisão e Negociação”.