A Indústria 4.0 nasce nos modelos de produção de manufatura, porém o conceito tecnológico está em todos os tipos de indústria. A rigor, a Indústria 4.0 independe do modelo produtivo, uma vez que o conceito de produção industrial é a transformação de matérias primas em produtos consumíveis ou utilizáveis.
Todavia, existe uma diferença entre o foco na Digitalização na Manufatura e nos Processos Contínuos.
Neste contexto, vamos entender as diferenças que existem nestes dois tipos de indústria, uma vez que podemos dividir o setor industrial nestes dois grandes grupos, mas não vamos esquecer da produção em Lote, ou Batelada.
Veremos que o foco de projetos e resultados da Digitalização e Indústria 4.0 nestes segmentos são diferentes. Lembrando que um não exclui o outro, mas tem pesos e impactos diferenciados que devem ser observados. Quanto ao impacto nas Pessoas e Processos, vamos descrever também suas diferenças, pontos importantes a observar na implantação e projetos.
A Transformação Digital na indústria é a aplicação das tecnologias da Digitalização, de forma a impactar toda a cadeia de valor, nas dimensões Tecnologia, Processos e Pessoas, orientado pelos seguintes itens de uso:
- Digitalização de Ativos e Operações (IoT)
- Conexão da Cadeia de Valor (IIoT)
- Uso de Recursos de Cloud Computing
- Utilização de I.A. para Tomada de Decisões
- Uso de Tecnologias Habilitadoras
O conceito e Indústria 4.0 é a interconexão de toda a cadeia de valor (Informações + Pessoas + Equipamentos) conectados em rede, utilizando Inteligência Artificial para a TOMADA DE DECISÕES na Indústria.
Quanto as tecnologias da Indústria 4.0, há diversas e não queremos limitar o assunto. Todavia, para fins de estudo, precisamos entender que há um pré-requisito para implantação da Indústria 4.0, que passa pela Automação, Otimização e Convergência.
A Digitalização Básica, é o próximo passo. Isto é: tecnologias que estão dentro de qualquer contexto de digitalização, que são Internet das Coisas (IoT), Cibersegurança, Computação em Nuvem e Big Data.
E finalizando, podemos utilizar a terminologia das Tecnologias Habilitadoras (é uma proposta de estudo), que na prática, viabilizam e aceleram o processo de Digitalização, tais como: Drones, Cobos, Aprendizado de Máquina, Impressão 3D, AGV, Realidade Aumentada, Realidade Virtual, Gêmeos Digitais, entre outras.
Lembrando que esta tecnologias são dinâmicas e estão em constante evolução e mudança.
O que é a Indústria da Transformação ou Manufatura:
- Transforma e agrega materiais
- Fabrica componentes ou conjuntos
- Constrói um produto final ou subproduto
- É baseado em produção puxada
- É sensível ao fornecimento externo
- Produz lotes para um nicho de cliente
- Produção baseada em tempos e movimentos
- Produtos especiais são caros ou inviáveis
O que é a Industria de Processos Contínuos:
- Transforma produtos primários
- Fabrica produtos processados
- Fornece produtos final ou subproduto
- É baseado em produção por safra ou lote
- É sensível ao fornecimento de matéria prima
- Produz grandes lotes (commodities)
- Produção baseada em transformação fisioquímica/biológica
- Somente escala de produção viabiliza custo
Principais Desafios
Entendendo os contextos acima apresentados, vamos entender alguns principais desafios destes tipos de indústria:
Manufatura
- Produzir em baixa escala com custo competitivo produtos especiais;
- Produzir produtos especiais em grande escala sob medida;
- Eliminar o Lead Time da Cadeia de Fornecimento (do P&D a Logística).
Processos contínuos
- Variabilidade de carga influencia no custo de produção
- Identificar Lacunas de oportunidade de elevação de produção
- Antecipação de eventos de Operação e Manutenção
Soluções e Foco de Projeto
Manufatura
Como produzir em baixa escala com custo competitivo produtos especiais?
Projetar e implantar a Fábrica Flexível, que permita a Massificação da Personalização.
Como produzir produtos especiais em grande escala sob medida?
Projetar e implantar a Fábrica Descentralizada, que permita a Customização em Massa.
Como eliminar o Lead Time da Cadeia de Fornecimento (do P&D a Logística)?
Projetar e implantar a Fábrica Interoperável, que permita a Interoperabilidade da Cadeia de Valor.
Processos contínuos
Como diminuir a variabilidade de carga influencia no custo de produção?
Implantar Controle Avançados APC com Inteligência Artificial para eliminar a variabilidade.
Como identificar Lacunas de oportunidade de elevação de produção?
Implantar Otimização em Tempo Real RTO com Inteligência Artificial para elevação de ponto ótimo de operação.
Antecipação de eventos de Operação e Manutenção?
Implantação de Gestão de Ativos com Inteligência Artificial para focar Manutenção com Prognóstico.
Como são os Processos de Batelada ou em Lote:
- Preparação de carga de matéria prima ou produto final
- Processo que depende de TEMPO de REAÇÃO (física, química ou biológica)
- A operação e qualidade se torna crítica se houver dependência de expertise operacional
- Repetibilidade é o que produz estabilidade na produção
- Em processos alimentícios o CIP Limpeza, faz parte do tempo de produção
- Capacidade de troca de receitas, diminui Lead Time na produção
Na Digitalização de Processos de Batelada ou em Lote, é importante observar os principais pontos desafiadores neste tipo de fabricação:
- Digitalizar o processo de modo a diminuir a Expertise de operação, isto é, o conhecimento do processo está na nuvem (Cloud)
- A partir da digitalização, é possível analisar padrões produtivos, de forma a otimizar a produção pelo comportamento a cada lote processado
- A Inteligência Artificial (A.I.) apoiar a tomada de decisões na Receitas produtivas, servido de apoia a tomada de decisões junto aos gestores
Em relação as Pessoas e Processo, podemos analisar seus principais impactos, fazendo uma relação antes (como é), e depois (como será):
Como normalmente é na Indústria:
- Planejamento não acompanha produção – produção é puxada não conecta na cadeia de valor
- Operação toma ações locais e gestores tem expertise para tomada de decisões de produção para meta
- Manutenção analisa comportamento de ativos, usa preventiva e para processos para correções
Como será esperado após a digitalização:
- Planejamento e produção conectados em tempo real sob demanda – conectados na cadeia
- Operação supervisiona, máquina opera, gestor toma decisões baseado em Big Data e puxa otimização
- Manutenção trabalha com gestão de ativos baseado em condições, foco em prognóstico futuro – condições
Para apoiar nos projetos propostos, nas dimensões Manufatura, Processos Contínuos e Batelada, sugerimos uma pesquisa nas Normas da Sociedade Internacional de Automação (ISA), nos seguintes títulos:
- ISA-106 – Processos Contínuos – Procedure Automation for Continuous Process Operations
- ISA-88 – Controle de Batelada – Batch Control
- ISA-95 – Integração de Fábrica – Enterprise-Control System Integration
Para complementar o foco de projetos nos dois tipos de produção industrial, podemos apontar algumas tendências tecnológicas, também nestas divisões:
Manufatura:
- PROCESSOS: Fábricas mais perto dos consumidores
- TECNOLOGIA: Movimento entre máquinas com AGV
- PESSOAS: Muita personalização e customização de produto
Processos Contínuos:
- PROCESSOS: Uso de Nanotecnologia para sensores
- TECNOLOGIA: Uso de DRONES para manutenção
- PESSOAS: Tomada de decisões baseado em I.A
Conclusão
Concluímos que diversos são os impactos nas indústrias com a Digitalização, cada modelo produtivo tem um enfoque, tanto em tecnologia, processos ou pessoas. O importante é melhorar a qualidade e produtividade, de forma a extrair o que há de melhor neste momento da Indústria 4.0.
Artigo original em: www.automacaoindustrial.info/manufatura-4-0-x-processo-4-0
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Márcio Venturelli
Márcio Venturelli trabalha há 25 anos no mercado de Automação Industrial, desenvolveu sua carreira ao longo do tempo com foco em Inovação e Novas Tecnologias, especializou-se em Digitalização e Indústria 4.0, atualmente é Professor e Consultor de Automação Industrial, como foco em Transformação Digital. Trabalhou em diversos projetos e implantação de sistemas de controle e automação industrial, no Brasil e no exterior, além de ser professor de graduação e pós-graduação nas áreas de automação e gestão industrial e desenvolver pesquisa aplicada nas áreas da Indústria 4.0. Graduado em Ciência da Computação com especialização em Controle e Automação Industrial, possui pós-graduação em Gestão Industrial e Tecnologia do Petróleo e Gás e MBA em Estratégica de Negócios, é membro Sênior da ISA Sociedade Internacional de Automação.