A importância da avaliação e controle do capital intelectual em ferramentarias

A influência de fatores como a especialização de funcionários, sua motivação, a forma como se relacionam internamente e cooperam entre si na transferência de conhecimento, e de que maneira as empresas se relacionam com seus clientes e fornecedores, pode contribuir diretamente com o sucesso dos negócios de uma empresa. 

O desafio consiste em como tornar esses fatores visíveis e acessíveis para sua gestão e dessa forma contribuir com a melhoria contínua dos negócios. O Capital Intelectual representa esses e outros inúmeros fatores. 

O Capital Intelectual (CI), base de recursos intangíveis do conhecimento existente em uma empresa, é basicamente composto pelo Capital Humano (relativo à agregação de valores que um colaborador empreende aos processos da empresa), pelo Capital Estrutural (definido pelos processos de gestão de recursos e pela infraestrutura disponível) e pelo Capital Relacional (definido como as relações da empresa com as partes interessadas). 

A análise do Capital Intelectual (InCaS) é um instrumento de gestão estratégica para a avaliação e desenvolvimento de uma organização, pois auxilia empresas a gerenciar seus ativos intangíveis para, por exemplo, mensurar o seu potencial de inovação e buscar maior eficiência e competitividade no mercado (figura 1).


Figura 1 – Modelo estrutural do Capital Intelectual 

Recursos intangíveis do Capital Intelectual são àqueles descritos como os conhecimentos que uma organização dispõe, interna ou externamente, que não apresentam características facilmente percebidas ou entendidas, mas que interferem diretamente na criação de valor dos negócios das empresas.  

A análise do Capital Intelectual (InCaS) pode ajudar empresas a melhor compreender a importância dos recursos (capital humano, relacional e estrutural) para seus negócios, por exemplo, ao fortalecer a visão da atuação em rede com uma estratégia de perenidade para uma organização, corroborando com a importância de um gerenciamento estratégico para melhorar o fluxo de agregação do valor intangível (nesse caso o capital relacional),  propiciando identificar seu potencial de sinergia para enfrentamento dos desafios de mercados globais e maior concorrência. 

Como trata-se de uma análise de difícil percepção dado a dificuldade em mensurar a influência do Capital Intelectual no dia-a-dia dos negócios e evitar, de certo modo, que essa análise seja baseada somente na visão que cada empresa tem sobre si mesmo, recorre-se aos processos de comparação entre concorrentes no mercado (benchmarking ), que permite uma análise da importância de determinados fatores de recursos intangíveis para uma empresa, identificando seu cenário atual e sua localização competitiva frente aos concorrentes que se destacam nesse campo.  

Uma vez identificados e monitorados indicadores pré-estabelecidos para o comparativo entre empresas, parte-se para uma etapa de controle mais compreensível, tendo sempre bem claros o escopo, os objetivos e suas premissas. Na etapa de controle, os ganhos são mensurados e é lá que surgem as inovações de processos, produtos e de gestão. 

A aplicação da análise do Capital Intelectual aqui proposta visa complementar estudos de benchmarking já desenvolvidos no âmbito dos aspectos organizacionais e tecnológicos, como o elaborado por  com base no setor ferramenteiro . 

Dado a influência e importância do Capital Intelectual nos negócios, identificada em estudos apresentados pelo projeto de pesquisa alemão "Wissensbilanz - Made in Germany", pretende-se elaborar uma base de dados sobre a influência dos fatores do Capital Intelectual na visão de empresas nacionais, contribuindo com a percepção de seu valor e a possível inserção nos negócios como estratégia competitiva. 

O projeto alemão elaborado por, contempla uma base de dados de 532 empresas alemãs, com uma classificação dos principais fatores do CI apontados por essas empresas como os mais relevantes quanto sua percepção e quanto sua aplicação de fato na rotina dos negócios. Entende-se que essa base pode ser utilizada como um importante referencial comparativo para a análise da influência e percepção dos fatores do CI em empresas de base nacional (benchmarking) dado a importância da indústria alemã na economia global e seu reconhecido potencial para inovação.

Base de dados para benchmarking do capital intelectual

A figura 2 apresenta as médias obtidas pelas empresas alemãs para as 18 questões aplicadas nos questionários dos fatores do Capital Intelectual, elaborado por [3], quanto a importância desses fatores versus aplicação dos mesmos nos negócios atuais da empresa, base de dados para benchmarking CI. 

Observa-se nos resultados que os fatores mais importantes do Capital Intelectual, na visão das empresas alemãs, são o de “competência profissional” e de “relacionamento com os clientes”. 

Do outro lado do ranking , observa-se que os fatores de “máquinas e equipamentos” e de “materiais e recursos”, são os menos avaliados como importantes para o sucesso dos negócios. Trata-se de um dado relevante sobre a maior influência de recursos intangíveis frente a outros tangíveis na visão de sucesso organizacional para as empresas alemãs. No comparativo entre a percepção da importância versus aplicação de fato dos fatores do Capital Intelectual no dia-a-dia das empresas, nota-se que há ainda espaço para desenvolvimento na prática desses fatores.


Figura 2 – Médias obtidas nos questionários dos fatores do CI: Importância dos fatores versus aplicação nos negócios atuais da empresa, base de dados para benchmarking CI

Para melhor entendimento dos fatores do Capital Intelectual e incentivar sua análise e controle diário de aplicação na empresa, a figura 3 apresenta indicadores recomendados para o gerenciamento estratégico de alguns dos fatores do CI visando propiciar seu desenvolvimento com vistas a vantagem competitiva para os negócios. 


Figura 3 – Indicadores para controle dos fatores do Capital Intelectual 

Metodologia

Para a aplicação e medição do CI, no modelo de um questionário de benchmarking, é necessário estabelecer uma estrutura comum para a exibição dos recursos intangíveis de uma empresa em comparação a outras dentro da estratégia de gerenciamento InCaS.  

Nesse contexto, será utilizado como base o questionário do projeto de pesquisa alemão "Wissensbilanz - Made in Germany", aplicado na análise de Capital Intelectual de diferentes empresas. 

Para desenvolvimento do questionário, que será aplicado às empresas de base nacional, utilizou-se a ferramenta Google  Forms, serviço disponível do Google que permite a edição colaborativa de documentos. 

Os modelos de construção de formulários do Google Forms possuem boa apresentação e de simples estruturação, facilidade de aplicação dado as opções de formatação dos modelos de respostas, e permitem uma imediata compilação dos dados de respostas pelos entrevistados, por meio de uma conexão (link) automática com formulários de banco de dados, também disponíveis no próprio Google. 

Os formulários de questões são enviados por e-mail  aos convidados, que podem respondê-los no próprio corpo da mensagem ou acessando o link também disponibilizado no conteúdo desse e-mail. 

A base de dados de para a influência dos fatores do Capital Intelectual, com os resultados de 532 empresas alemãs, será utilizada como benchmarking, permitindo a comparação com os resultados que serão obtidos sobre as empresas de base nacional. A figura 4 mostra os fatores do Capital Intelectual, adaptados para permitir uma comparação entre empresas participantes de um benchmarking.


Figura 4 – Fatores do Capital Intelectual

O projeto "Wissensbilanz - Made in Germany" apresenta ainda um formulário com 12 questões variadas, com o propósito de identificação da empresa entrevistada, na tentativa de diagnosticar sua competência central, além de questões como área de atuação, o conhecimento prévio do conceito de Capital Intelectual, faturamento, metas, estratégia competitiva, mercados de atuação entre outras.

Resultados

A seguir, é apresentado o formato e parte do questionário do Capital Intelectual, fruto da análise inicial, compilado para os modelos de formulários do Google Forms (figura 5). O formulário possui 18 questões abordando os aspectos intangíveis do Capital Humano, Relacional e Estrutural, para a avaliação da “percepção ou importância” do empresário sobre a influência que esses fatores podem representar nos seus processos de negócios. 


Figura 5 – Questionário: Importância dos fatores do Capital Intelectual nos processos de negócios (amostra) – Desenvolvido na plataforma Google Forms

Em uma estratégia de reavaliação e aferição da sensibilidade do empresário entrevistado sobre a influência dos fatores do CI nos processos de seus negócios, segundo [3], recomenda-se uma nova aplicação do questionário mas com base no dia-a-dia da empresa (evidências de realização e dados concretos), para comparação dos fatores qualitativos (percepção) e quantitativos (aplicação). 

A figura 6 apresenta o modelo de gráfico gerado pelas respostas inseridas no Google Forms, que permitem um comparativo do resultado individual frente a média das respostas obtidas dos demais entrevistados. Neste caso, recorre-se aos processos de comparação entre concorrentes no mercado (benchmarking base alemã), que permite uma análise do posicionamento da empresa quanto a importância do Capital Intelectual para seus negócios, identificando seu cenário atual e sua localização competitiva frente aos concorrentes nacionais e da base alemã, possibilitando a mensuração de ganhos por meio de uma etapa de controle de gestão, processos e inovação. 


Figura 6 – Banco de dados gerado automaticamente

A figura 7 mostra ainda parte do resultado do modelo de formulário aplicado ao empresário entrevistado para auxiliar na identificação de sua competência central e a separação por setores específicos e porte (faturamento) para comparação dos fatores do CI por pares correspondentes.


Figura 7 – Questionário: Identificação competência central da empresa - Desenvolvido na plataforma Google Forms

Conclusões

Dado a similaridade do perfil da base de dados apresentada por [3], com o perfil do setor ferramenteiro no Brasil, conforme estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais (ABINFER), onde aproximadamente 90% das empresas desse setor são consideradas micro, pequenas e médias, acredita-se que a análise do Capital Intelectual, além de avaliar a percepção e aplicação pelo empresariado nacional dos fatores do CI e sua comparação com a base de dados alemã, permite ainda uma oportunidade de sua sensibilização sobre o tema, uma motivação deste estudo elaborado para o setor ferramenteiro no Brasil, em consonância com a visão de. 

Sabe-se das dificuldades de se compartilhar informações, mas há grandes benefícios nesses processos de troca. O Capital Intelectual visa identificar oportunidades de negócios, mas também aumentar o seu desempenho por meio do compartilhamento de melhores práticas, não somente em aspectos tecnológicos, para encontrar meios de tornar as empresas nacionais mais competitivas no mercado global.  

Apoia-se a ideia que a competitividade e a melhoria de desempenho de uma empresa podem depender de sua habilidade e capacidade de participar de redes colaborativas e dinâmicas em ambientes de negócios. 

Compromissos em redes podem ser cruciais para a competitividade sustentável nos mercados internacionais. A forma como as empresas cooperam, trocam e adquirirem conhecimentos, e estruturam suas parcerias para resolução de problemas interferem significativamente nessa questão e podem ter seu potencial de cooperação, por exemplo, mensurado com o auxílio da análise do Capital Intelectual. 

O benchmarking e os dados que serão gerados servirão também de estímulo e orientação para a tomada de decisão de gestores com relação aos pontos de melhoria às esferas humana, estrutural e relacional do Capital Intelectual.


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Capital Intelectualferramentarias benchmarking Base de dados lucratividade Metodologia
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Luiz Eduardo Leão

Graduação em Projetos pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC/UNESP (2006), especialização em MBA – Consultoria Empresarial pelo SENAI/SC – Florianópolis (2011). Atualmente é coordenador técnico pelo SENAI – Departamento Nacional e responsável por projetos de avaliação educacional e tecnológica. Tem experiência na área de Engenharia Mecânica, com ênfase em Processos de Fabricação e Projetos. http://lattes.cnpq.br/9559684069358315