Resiliência e boa comunicação devem ser adotadas nas empresas para
uma eficiente gestão de riscos e crises
Segundo o IBGC, no Guia de
Orientação para Gerenciamento de Riscos Corporativos, o termo risco é
proveniente da palavra risicu ou riscu, em latim, que significa ousar (em
inglês, to dare). Costuma-se entender
risco como possibilidade de “algo não dar certo”, mas seu conceito atual
envolve a quantificação e qualificação da incerteza, tanto no que diz respeito
às “perdas” como aos “ganhos”, com relação ao rumo dos acontecimentos
planejados, seja por indivíduos, seja por organizações.
Quando investidores compram
ações, cirurgiões realizam operações, engenheiros projetam pontes, empresários
abrem seus negócios e políticos concorrem a cargos eletivos, o risco é um
parceiro inevitável. Contudo, suas ações revelam que o risco não precisa ser
hoje tão temido: administrá-lo tornou-se sinônimo de desafio e oportunidade.
O risco é inerente a qualquer
atividade na vida pessoal, profissional ou nas organizações, pode envolver
perdas, bem como oportunidades. Em finanças, a relação risco-retorno indica que
quanto maior o nível de risco aceito, maior o retorno esperado dos
investimentos.
O risco tanto é uma
propriedade objetiva de um evento ou atividade, relativa à probabilidade de
ocorrência de um evento adverso bem definido, como também é uma construção
social e cultural. Nesse caso, as prioridades não são estabelecidas conforme
números, mas de acordo com critérios de prioridade instituídos pelos valores
sociais e estilos de vida preferidos, lembrando-se que, em uma mesma sociedade,
poderá haver diferentes estilos.
Também se pode entender que o
risco é a possibilidade de haver um acontecimento incerto, fortuito (ou
acidental, independente da vontade da empresa) e danoso (precisa haver perda).
Podemos citar o exemplo de cortar o dedo com uma faca de plástico: parece
impossível.
Desta forma, o risco está
associado às leis de probabilidade, podendo ocorrer sempre fatos novos,
inesperados. Ele tem de ser algo possível, citamos como exemplo a possibilidade
de um avião cair. A ameaça é um risco na segurança empresarial, pois é um
evento capaz de produzir perdas reais e mensuráveis por um padrão comum (é
definido pela empresa – desde a moeda corrente até desgaste de sua imagem
interna ou externa).
Risco pode ser uma ou mais condições
de variáveis com potencial necessário de causar dano ao patrimônio da empresa,
tangível ou intangível. Muitos riscos são inerentes ao negócio, e a competência
do profissional de gestão de riscos e controle reside na seleção de quais
riscos a empresa deve tratar.
Portanto, riscos são inerentes
a qualquer atividade, pode ser de qualquer natureza e ter dimensões e efeitos
que podem ser negativos ou positivos. O risco sempre estará presente, podendo
haver baixo ou alto nível de perigo, dependendo das medidas preventivas e de
segurança existentes.
A aplicação do conceito de
risco na interpretação de fenômenos denota, a rigor, a rejeição do determinismo
causal. Isso porque, com o seu uso, há a admissão implícita do aleatório ou da
intervenção do acaso. Ainda que possa haver diferentes interpretações para o
significado de “acaso”, sempre há o reconhecimento de uma ignorância. E mesmo o
fato de os procedimentos matemáticos poderem oferecer uma dimensão para esse
“acaso”, aquela condição intrínseca de ignorância permanece.
Uma pergunta paira no ar: como
ser resiliente? Entendo que é descobrir o segredo para contornar os riscos e
contratempos nos negócios e promover a profissionalização do gerenciamento da
empresa, investindo em um plano de negócios, desenhando um fluxo de caixa,
conhecendo todas as possibilidades do empreendimento e possibilidades de perdas
existentes.
Acreditamos que gestão de
riscos e gestão de crises requer visão no ontem, no hoje e projeção no futuro,
somente assim podemos efetuar uma gestão empresarial responsável e com base de
informação confiável que dê suporte à tomada de decisões na organização.
Durante a pandemia, eu e minha
amiga de profissão, Roberta Volpato Hanoff, escrevemos um artigo para orientar
nossos clientes e seguidores nas redes sociais, para que fosse possível algum
ajuste operacional e melhorias nos processos de gerenciamento de riscos e
continuidade de negócios, afinal, ao percebemos as inúmeras incertezas que
estavam relacionadas aos impactos e, principalmente, com os desdobramentos da
pandemia de COVID-19, que está afetando o mundo inteiro (e aqui no Brasil não
foi diferente).
Identificamos que muitas
empresas, independentemente do seu porte ou complexidade dos negócios,
precisavam avaliar seus processos de gestão de maneira que fossem baseados em
suas realidades, bem como o seu apetite ao risco, dadas as necessidades de
manutenção de fluxo de caixa e atingimento, dentro do possível, os objetivos
estratégicos originalmente desenhados para 2020, que acreditamos, mudou bastante.
Não é verdade?
Por este motivo, acreditamos
que para que o seu negócio seja sustentável neste imenso desafio (e haja
desafio!), tanto na mudança da gestão, como na forma de continuar o seu negócio.
Portanto, entendemos que a Gestão de Riscos deverá ter seu papel como grau de
relevância para manutenção de seus produtos e serviços, colaboradores e
gestores, clientes, e por que não, com seus fornecedores – afinal, todos fazem
parte de sua cadeia de valor.
Para que possamos entender
melhor apresentamos o conceito de Cadeia de Valor, que é um modelo que visa
estruturar as atividades desenvolvidas por uma organização, com o objetivo de
criar valor para seus clientes. Este conceito foi desenvolvido pelo professor
Michael Porter da Harvard Business School, em 1985, que consiste na criação de
um fluxograma para o controle dos conjuntos de atividades de valor para que as
empresas possam analisar o funcionamento das relações entre elas. E nas
questões de mapeamento de riscos, facilita muito o entendimento dos processos
de negócios, seus controles, suas conformidades e probabilidade e impactos de
perdas que podem ocorrer dentro de cada organização.
Nesse sentido, visando a que esse gerenciamento aconteça de modo adequado damos como orientação considerar os seguintes aspectos:
· Estabelecer um comitê de Gestão de Crises,
reunindo os principais executivos e gestores da organização diariamente (de
preferência matutinas), para reavaliações tempestivas dos cenários externos
dentro da organização (citamos como exemplo os avanços do COVID-19 e seus
impactos no negócio);
· Construir um plano de Gestão de Crises, associado a um Plano de Recuperação e Continuidade do Negócio (incluindo
possibilidades de desastres e/ou situações externas, e para isso, citamos como
exemplo a greve dos caminhoneiros e a atual pandemia);
· Por outro lado, se o plano já existe e a
empresa o considera desatualizado, ou mesmo inapropriado a tratar a crise no
momento presente, não vale se ocupar com uma atualização agora, no momento, tem-se
que agir de forma rápida, consciente e coordenada;
· Depois de superados os problemas, um grupo de
trabalho de sua empresa, criado de modo multissetorial e liderado pelos membros
da Alta Direção, deverá, por meio do debate sobre os aprendizados obtidos com o
enfrentamento da crise, constatar as vulnerabilidades dos processos de gestão e
controles internos, reconstruindo, desta forma, um novo, coerente e efetivo
Plano de Gestão de Crises;
· A mesma lógica deve ser adotada para a
Avaliação dos Riscos do Negócio: se isto ainda não faz parte da cultura do seu
negócio, ou se a avaliação está há muito tempo desatualizada, agora não é o
momento de se ocupar dela – até porque os aspectos estratégicos, operacionais,
financeiros e regulatórios derivados da pandemia de COVID-19 serão medidos
apenas nas próximas etapas do seu negócio, portanto, qualquer esforço envidado
agora implicará retrabalho logo à frente.
· Na atual conjuntura, a organização deve se
ocupar de “apagar incêndios” (sem deixar, é claro, de fazê-lo de forma
coordenada, estratégica e mediante a reunião dos recursos humanos, financeiros
e tecnológicos necessários), mas nada além disto. Os detalhes, já que não
priorizados até o momento, postergue para o período de calmaria;
· Quando se fala em riscos, automaticamente
pensamos em impactos. Caso a empresa, além de não ter avaliado previamente seus
riscos inerentes, também não tenha mapeado e calculado os impactos à sua
recuperação e continuidade, uma alternativa rápida e que pode servir a tentar
salvar o negócio é a renegociação com bancos, clientes e fornecedores
(especialmente, prazos e pagamentos), além da manutenção da execução dos
serviços e realização de entregas (pois, do contrário, isto pode “matar” seu
negócio);
· Outra ferramenta rápida e que pode ser usada,
ainda que temporariamente, para ajustar seu apetite e tolerância a risco, é a
construção de indicadores de performance e riscos para o monitoramento
contínuo, com o estabelecimento de gatilhos para o acionamento de medidas de
contingência e continuidade de forma minimamente estruturada, mas lembre-se de
aperfeiçoar seus modelos em um futuro próximo;
· O seu comitê de Gestão de Crises deve, nas
reuniões diárias obrigatórias que mencionamos de início, discutir sobre o
mapeamento de cenários (já ouviu falar de “stress testing”?).
Estes momentos são essenciais para aprender com os problemas e desenvolver
possíveis soluções, especialmente para o caso de prolongamento da crise,
avaliando o apetite de risco e, o principal, qual a tolerância do negócio para
situações como a atual;
·
Implemente mecanismos internos de comunicação
para colaboradores, clientes e fornecedores, e realizar o monitoramento neste
caso atual sobre os avanços do COVID-19, (de preferência de fontes seguras,
cuidado com as fake news), e de seus impactos para o negócio e a vida das
partes interessadas. Esta comunicação deverá ser coesa e recorrente, realizada
por porta-vozes especialmente escolhidos para esta finalidade, de forma a que
todas as partes envolvidas, de dentro e de fora da organização, tenham acesso
ao mesmo conteúdo e ao mesmo tempo – isto certamente evitará vazamentos de
dados descontextualizados e, até mesmo, especulações promovidas por pessoas que
não estão suficientemente inteiradas do contexto e dos planos de ação adotados
pela organização, além de cenários de pânico e incerteza.
O principal desafio é fazer
com que a estratégia global e a perspectiva de risco sejam comunicadas e
entendidas por todos em todos os níveis da organização, refletindo no processo
de tomada de decisões, uma vez que todos devemos entender e identificar os
riscos inerentes a nossas atividades, e somente com essa conscientização
poderemos gerenciá-los melhor.
O risco, portanto, tem como
principal característica a probabilidade de ocorrer ou não, dada determinada
alternativa escolhida pelo gestor. Por essa ótica, o risco pode ser
interpretado como uma ameaça ao alcance dos objetivos organizacionais. As
categorias de riscos a que uma atividade está exposta dependem da natureza
dessa atividade e de como tratamos a sua possibilidade.
A gestão de riscos proporciona um processo de conhecimento dos limites dos negócios, seus impactos, das possíveis perdas e das oportunidades que possam surgir, por isso entendemos que um bom processo demanda de uma resiliência organizacional.
Em um nível mais estratégico, a resiliência pode representar a habilidade da empresa em alterar suas estratégias de maneira dinâmica ou até mesmo reinventar seu modelo de negócio visando a uma adaptação ao seu modelo de negócios e processos internos.
Entendemos que uma gestão de
riscos bem estabelecida, começa com boa comunicação, pois desta forma, todos
estarão “na mesma página”, sabendo apenas o que for realmente útil, verdadeiro
e necessário para que prossigam trabalhando de modo seguro e, ao mesmo tempo,
auxiliando a empresa no atingimento dos objetivos de seu Plano de Gestão de
Crises e de Continuidade dos Negócios.
É provável que, quando
chegarmos ao final da crise de pandemia, as organizações que a ela sobreviverem
se deparem com algumas baixas e perdas, mas, esperamos que estes dados, mesmo
negativos, não tenham destaque maior do que os aprendizados que advierem com o
período.
Entendemos que este
aprendizado faça sentido de verdade, a nossa sugestão é revisitar os processos
operacionais de sua empresa no que tange o sistema de Controles Internos,
Compliance, Gestão de Riscos, Gestão de Crises e Gestão da Continuidade de
Negócios, e fica a nossa dica, jamais negligenciando a importância de se
preocupar com a melhoria contínua e com correções que, se detectadas e
implementadas imediatamente, garantirão valor agregado e perenidade.
Tags
Gestão de Riscos gestão pandemia riscoCompartilhe
Marcos Assi
Professor e comendador MSc., CRISC, ISFS – Sócio-diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP. Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-graduação em Auditoria Interna e Pericia pela FECAP.