Gestão estratégica: ferramenta ou cultura empresarial?

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A necessidade de construir um caminho estruturado que levará as empresas ao sucesso passa pelo planejamento estratégico como um hábito e não somente como uma ferramenta de trabalho

Sempre que sou convidado para falar sobre Planejamento Estratégico (PE), lembro-me de dois episódios pelos quais passei na minha carreira de Consultor e Palestrante apaixonado por esse tema. 

A primeira oportunidade foi quando, em uma entidade, levei alguns programas de treinamento para os associados. Para começar ofereci justamente falar sobre Planejamento Estratégico. Na hora a pessoa me respondeu: Não adianta ofertarmos treinamentos sobre este tema porque isso ninguém tem interesse em comprar.

Ouvir aquilo foi muito frustrante porque além de ser um tema pelo qual tenho muito apreço e sobre o qual investi muito tempo e estudo, também sei que é vital para qualquer negócio. As mudanças que o mundo sofreu nos últimos tempos deixaram as relações muito mais rápidas e, ao mesmo tempo, sensíveis. 

Nos dias de hoje, onde a concorrência é global em qualquer setor da economia, um bom Planejamento Estratégico pode construir um caminho sólido para o sucesso de qualquer empresa. 

Outro episódio que vivi foi em uma palestra onde falei para um grupo de empresários de uma cidade muito forte no cenário econômico brasileiro. 

Sou defensor ferrenho do hábito do Planejamento Estratégico, justamente porque não acredito na eficácia somente da ferramenta de planejamento, mas sim, no hábito que a empresa incorpora ao viver a estratégia de negócio como um processo que faz parte do cotidiano de todas as pessoas que trabalham nela, e não apenas dos seus donos. 

É possível que planejar não seja a tarefa mais agradável para muitas pessoas, afinal temos preferências de comportamento diferentes, então isso é plenamente compreensível. Acredito que nem todo mundo acorda pela manhã e o primeiro pensamento que vem à sua mente é: Oba! Hoje tenho reunião de Planejamento Estratégico!

Nos projetos que desenvolvo em empresas que decidem estruturar seu Planejamento Estratégico, em uma determinada etapa do trabalho, desafio os membros do Comitê de Gestão a tirar três horas semanais para pensarem o que querem para o negócio e, com isso, prepararem-se para as reuniões com os demais membros do comitê. 

Sim, apenas três horas semanais e muitas pessoas não conseguem tirar um tempo sozinho para pensar o que ele, geralmente sócio do negócio, quer para o futuro do seu empreendimento. Isso faz com que as reuniões dos Comitês de Gestão acabem por discutir muito mais do mesmo ou até se transformem em um reality show onde o imperativo é você cobrar o outro pelo que ele não fez da sua parte ao invés de pensar no todo do negócio.

Voltando ao episódio, defendi durante toda a minha fala para este grupo de empresários que o hábito do Planejamento Estratégico é o que faz a diferença e não apenas aquele conjunto de documentos que ele ou algum consultor desenvolveu para sua empresa. Também abordei esta questão das três horas semanais para pensar o negócio. 

Ao final da minha fala, naquele momento em que as pessoas colocam suas perguntas, uma participante pediu a palavra e disse o seguinte: Planejar é muito chato e, por isso, sei que eu e muitas outras pessoas precisamos de uma solução diferente para construir e conduzir a estratégia de nossos negócios.

Minha primeira reação foi rebater mentalmente pensando que chato é você ver sua empresa enfrentar dificuldades, não ter dinheiro porque não consegue vender e não conseguir vender porque não sabe o que seus clientes estão comprando e/ou porque estão comprando de seus concorrentes. 

Mas passados os primeiros três segundos desta resposta mental, parti para a resposta verbal e prática que foi questionar aquela pessoa sobre o que custa mais caro: fazer algo que se considera chato, como o Planejamento Estratégico, ou simplesmente perder espaço no mercado sem saber o motivo, ver seu negócio perecer sem nenhuma razão evidente? Afinal de contas você é crente de que seu produto/serviço é bom, porém quem compra de você está comprando do vizinho e a diferença de preço não é o principal motivo. Neste momento, um breve silêncio tomou conta do auditório.

Mesmo sabendo que eu estava com razão na minha resposta, esta questão da chatice de se fazer planos, pensar o negócio e querer construir o futuro ficou me atormentando por vários dias. Cheguei à conclusão de que esse é um dos maiores problemas, se não for o principal, que fazem com que as empresas, principalmente pequenas e médias, fujam do Planejamento e da Gestão Estratégica. 

Pensando um pouco mais, as pequenas e médias empresas são dominantes na economia brasileira e isso deixa o cenário um pouco mais sério. Com um ambiente corporativo cada vez mais voraz, a chance de um futuro próspero e, por consequência, um crescimento financeiro e social de todas as pessoas ligadas a estes negócios fica ainda mais comprometido.

Recentemente houve a publicação da versão 2015 da NBR ISO 9001 e, para minha alegria, ela torna obrigatório o vínculo dos Sistemas de Gestão da Qualidade com o Planejamento Estratégico das empresas que sejam certificadas ou que queiram certificar-se.

Embora eu defenda que o Planejamento Estratégico não resolva por si só o problema que as empresas enfrentam, isso trouxe uma esperança enorme para aqueles que, assim como eu, acreditam no hábito da estratégia como motor de mudança dos rumos de uma empresa. Esta iniciativa fará com que, mesmo sem querer, os empresários tenham contato com ferramentas como: Modelagem de Negócios Canvas, Análise SWOT, Modelo das 5 Forças de Porter, entre outras.

Falando nestas ferramentas, quando é possível institucionalizar o seu uso em alguma organização, os participantes deste processo finalmente enxergam como elas podem agregar para o negócio. Como sou Coach, adoro fazer perguntas. Então aqui vão algumas:

a) Você conhece integralmente a capacidade de todos os recursos físicos, financeiros, humanos e organizacionais que sua empresa tem à disposição para funcionar?


b) Você sabe qual é a proposta de valor do seu negócio, ou seja, o que o seu negócio significa para seus atuais e potenciais clientes?


c) Você usa todo o potencial do seu poder de barganha com seus clientes e fornecedores?


d) Você sabe qual é a vantagem competitiva que sua empresa consegue gerar para seus clientes?


e) Você sabe qual é a vantagem competitiva que seus concorrentes também conseguem gerar?


f)  Você sabe qual a vantagem competitiva que seus clientes querem comprar?

 

A resposta para estas perguntas tão intrigantes é facilmente respondida em empresas que possuem um Planejamento Estratégico instituído e assim possuem um plano claro de como seu futuro estará estruturado para os próximos anos. A boa notícia é que, ao contrário do que muita gente imagina, entender o funcionamento do processo Estratégia é algo simples e, quando conduzido da forma adequada, pode trazer retorno em curto prazo.

Conheço empresas que no mesmo ano em que implantaram a Gestão e o Planejamento Estratégico, onde seus principais gestores foram desafiados a “pensar fora da caixa” e a começar dedicando três horas por semana a respeito dos rumos de seu negócio, conseguiram desenvolver suas estruturas de liderança e já estão planejando novos negócios, diversificando assim, a sua atuação no mercado.

Pensando nisso, criamos uma ferramenta de diagnóstico rápido e simples, que mede o nível introdutório da maturidade estratégica de seu negócio. 

A sua análise é muito simples, ou seja, respostas compreendidas entre 100% e 85% definem empresas que alto índice de maturidade estratégica e que o hábito da gestão estratégica está presente nas pessoas que atuam nesta empresa. 

As respostas que estão abaixo de 85% e acima de 70% demonstram que a empresa possui certo nível de maturidade estratégica, certamente composta por processos relativos à estratégia de negócios, mas que precisa de atenção quanto à força do hábito da gestão estratégica. As respostas que estão abaixo de 70% revelam que a empresa possui o nível de maturidade estratégica muito baixo e, diante disso, precisa de ajuda especializada para desenvolver um trabalho voltado para a estruturação do processo de gestão estratégica. 

Outro fator relevante a respeito da Gestão Estratégica no Brasil é o governo. Não estou falando a respeito de crises, instabilidade política ou coisas desse tipo. A grande questão é o nível de interferência que o governo tem sobre o ambiente de mercado, afinal somos um dos países do mundo, em regimes democráticos, onde as ações regulatórias do governo acontecem em grande escala.

Portanto, fica evidente que não faltam pressões e motivos de todos os lados para que os pequenos e médios negócios resolvam investir de vez na construção de um caminho estruturado que os levará ao tão sonhado futuro próspero de uma forma muito mais transparente e segura. Afinal, os últimos tempos já nos mostraram que não há mais como deixar os negócios simplesmente acontecerem. É preciso construir o caminho que se quer seguir.

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Fabrício Albrecht

Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/PR), coach de Vida, Liderança e Estratégia e consultor de Estratégia Empresarial na Albcon e professor de Pós Graduação na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE).