Pode parecer básico demais pensar em operações que fazem parte do dia a dia da indústria. Entretanto, é o conhecimento detalhado e a escolha do método de usinagem que possibilitarão a otimização na aplicação das ferramentas de fresamento e técnicas para a execução de um processo mais eficiente e produtivo.
O que
significa na prática?
O
início de tudo está no sentido de corte e no correto posicionamento da fresa.
Ou seja, para escolher o melhor método de
fresamento, deve-se avaliar, antes, qual o melhor sentido de corte a
ser adotado e como posicionar a fresa.
Sentidos
de corte
Na figura 1, temos o sentido de
corte concordante, que recebe esse nome pelo fato de a fresa atacar a peça no
mesmo sentido de avanço da peça a ser usinada.
O
corte concordante tem como característica principal a geração de cavacos
espessos no início do corte, ou entrada da ferramenta, e finos na saída do
corte.
Esse é
o método mais recomendado para operações de fresamento, pois gera forças de
corte favoráveis à aresta da ferramenta resultando em vida útil longa.
Na figura 2, temos o corte discordante, que recebe esse nome não somente por ser o oposto ao concordante, mas pelo fato de a fresa atacar a peça no sentido contrário ao avanço da mesa. Esse método é o menos indicado por gerar uma condição de atrito na entrada da aresta em corte, e que está relacionada a uma geração de calor desnecessária, sem que tenhamos uma condição de corte efetiva.
Outra característica desse método é a formação de cavacos espessos na saída do corte, o que provoca a ruptura do material de forma repentina. Esse é um dos principais fatores que causam vibrações e lascamentos de bordas em peças de materiais quebradiços, como os ferros fundidos, por exemplo.
O
corte discordante, por outro lado, gera menor deflexão da ferramenta e pode ser
usado para resolver problemas de imprecisão de perpendicularismo de paredes,
para citar outro exemplo. O corte discordante também é indicado para eliminar
folgas mecânicas que podem haver no sistema de fuso da mesa da máquina.
Posicionamento da fresa
Quanto
ao posicionamento da fresa podemos dividir em basicamente duas condições. A
condição de largura fresada grande ou pequena.
Considera-se
largura fresada (AE) grande quando a área de contato da fresa com a peça é
igual ou superior a 50% do diâmetro da fresa (DC), ou seja, AE ≥ 50% DC.
Essa
condição é usada quando temos muita remoção de material a ser feita, ou peças
de superfícies grandes.
Para
obtermos uma condição de corte otimizada, o ideal é que tenhamos entre 70% e
80% do diâmetro da fresa em contato.
Com
esse posicionamento, aliado ao corte concordante, proporcionamos uma entrada em
corte suave, com forças de corte favoráveis até a saída da aresta do material.
A geração de calor é concentrada nos cavacos, que são descartados, deixando a
peça e a ferramenta “frias”.
Como
benefícios mais expressivos, obtemos peças sem variações dimensionais e vida
útil longa da ferramenta.
Consideramos
largura fresada (AE) pequena quando a área de contato da fresa com a peça é
inferior a 50% do diâmetro da fresa (DC), ou seja, AE < 50% DC.
Em
operações de contorno, acabamento de paredes ou detalhes, que nos obrigam a
trabalhar com largura fresada pequena, principalmente abaixo de 25% do diâmetro
da fresa (AE ≤ 25% DC), ocorre uma situação onde os cavacos gerados não são
espessos o suficiente para gerar forças de corte, nem calor suficiente na
aresta de corte. Com isso, podemos lançar mão de um recurso que é a compensação
do avanço, onde recalculamos o avanço aplicado no deslocamento da ferramenta de
forma a gerarmos uma espessura de cavacos mais adequada, com maior geração de
calor na aresta de corte.
Em
outras palavras, podemos e devemos aumentar o avanço sob essa condição. Os
benefícios mais visíveis são o tempo de ciclo reduzido, menor tendência às
vibrações e melhor vida útil da ferramenta.
Desafios
O
assunto abordado pode parecer simples, mas é aí que está o desafio. Estar
atento aos mínimos detalhes do processo de fabricação, desde o início, garante
eficiência ao final do processo e resultados dentro do desejado.
Nossas dicas
Procure sempre extrair o máximo de suas ferramentas de corte e
equipamentos, logicamente dentro dos parâmetros de aplicação e segurança
recomendados pelos fabricantes. Alie a essa atitude, o cuidado com a análise
básica do que você quer fazer, do que espera obter, do que tem em mãos
(material, ferramentas, fixação, máquina etc.) e os fundamentos da usinagem. É
uma receita que diminui a margem de erros e as surpresas desagradáveis no
decorrer do processo e tem grandes chances de dar certo!
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Francisco Cavichiolli
Especialista em fresamento, fresamento de engrenagens e sistemas de fixação da Sandvik Coromant do Brasil