Dificuldade em enxergar os erros

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Sim, temos dificuldade em enxergar os nossos erros. Primeiro passo para encaminhar soluções adequadas. 

Prova disso, é que saímos de uma década de crescimento fácil, graças ao boom das commodities, e empacamos tão logo os preços baixaram. 

E não resolve atribuir a culpa ao mercado internacional. Deveríamos ter nos preparado para os momentos de vacas magras que certamente viriam. A exemplo de outros países, que enfrentando os mesmos problemas continuam crescendo a taxas robustas ou estão se preparando para isso. 

Além dos sempre mencionados China e Índia, temos Indonésia, que em 2014 cresceu 5,5%, e os nossos vizinhos Chile, Peru, Colômbia e o México, que vêm trabalhando em um pacote de reformas estruturantes, para elevar a produtividade e reduzir a pobreza, que lhes permita crescer a uma taxa de 5% ao ano pelas próximas duas décadas.

John Micklethwait, diretor-geral da Bloomberg News, e Adrian Wooldridge, editor da The Economist, publicaram recentemente o livro A Quarta Revolução – A Corrida Global para Reinventar o Estado, onde analisam bons e maus exemplos de atuações de governos. 

Como Lee Kuan Yew, que em três décadas transformou Singapura na Suíça da Ásia. Lee é um crítico dos excessos do Ocidente, da democracia irrestrita a políticas de bem estar social, que ele compara a um bufê liberado onde concessões que deveriam servir aos pobres, como universidade gratuita, são estendidas às camadas mais abastadas. 

Afirmam os autores: “Os políticos hoje são como arquitetos que discutem as condições dos cômodos em uma casa em ruínas, apressando-se em consertar uma janela aqui outra acolá, sem jamais considerar as condições da edificação. Precisamos refletir em profundidade sobre a função adequada do Estado”.

Desde 2005, o Banco Mundial vem analisando as reformas implementadas por 189 países para melhorar o ambiente de negócios. O Brasil está na 75ª posição. 

Após 37 reformas para melhorar a competitividade, um pequeno país chamado Geórgia alcançou o topo do ranking. Augusto de La Torre, economista-chefe do banco para a América Latina, questiona “se a dinâmica social do Brasil vai resultar em apoio a um projeto de reformas igualmente significativas... a única forma de continuar incluindo os mais pobres é reformar a economia para destravar o crescimento”.

Um importante fator a restringir o nosso crescimento é a falta de poupança, que limita a capacidade de investimento do país. E estimular o consumo como temos feito, sem a ampliação da oferta, seja de infraestrutura, tecnologia ou capacidade produtiva, pressiona a inflação.

Em 2010, a taxa de poupança privada no Brasil foi de 18,5% do PIB e a pública de (-) 0,5%. Além de estimular em excesso o consumo, o Estado ainda compromete a já baixa poupança privada. 

Em 2013, com o aumento da carga tributária, o setor privado não conseguiu poupar mais do que 17,2%, dos quais 2,8% foram consumidos pelo aumento dos gastos públicos, reduzindo a taxa líquida do país a menos de 15%. 

Segundo Bernard Appy, da Consultoria CCA, a criação de incentivos à poupança é essencial para livrarmo-nos da armadilha de baixo crescimento, mas o exemplo deve vir do próprio poder público.

O Brasil tem buscado recursos externos para suprir a falta de poupança interna, mas, como na gestão financeira de famílias e empresas, existe um limite prudencial para isso. Não faz tanto tempo assim que passamos por maus momentos por excesso de dívida externa.

A correlação entre taxa de poupança e capacidade de investimento fica clara quando comparamos a taxa média do período 2010 a 2013 de diferentes países: desenvolvidos, 20% de poupança para 20% de investimento; América Latina, 21% x 23,5%; média mundial, 25% x 24%; em desenvolvimento, 33% x 32%; asiáticos em desenvolvimento, 44% x 43%; e Brasil, 16% x 19%. 

Certamente, um sistema previdenciário excessivamente generoso é importante fator a desestimular a nossa poupança. Ao contrário da China, onde a precariedade da seguridade social leva a poupança a 52% do PIB. Nem tanto ao céu, nem tanto a terra. A registrar também o bom exemplo que o governo dá na China, poupando 11% do PIB.

Devemos nos inspirar em países democráticos que tomaram medidas importantes para restringir os gastos sociais, visando aumentar a taxa de poupança. Ainda mais se considerarmos as mudanças demográficas em curso no país. 

As recentes mudanças propostas no seguro desemprego, abono salarial e pensão por morte caminham nessa direção.

A alta carga tributária, que subtrai poupança, tem sido um dos freios ao nosso crescimento. Ela aumentou de 27% do PIB, em 1995, para os 37% atuais. 

E pior, na época, o governo conseguia investir 5% e hoje não consegue mais de 2,5%, somados União, estados e municípios. Investíamos 25% do PIB e hoje apenas 17%. Por outro lado, o Chile, onde os impostos não passam de 20% do PIB, consegue investir 25%. 

E a China, com uma carga tributária de 17%, investe quase 50%. No Brasil, o poder público, mesmo arrecadando muito, consome ainda parte da poupança feita pela sociedade, e mesmo assim só consegue investir pouco. O motivo é o constante e acelerado crescimento dos gastos correntes, que já ultrapassaram os 40% do PIB.

Por opção e por ineficiência anulamos a nossa capacidade de crescimento. Muito mais nobre é o gestor público que colhe seus momentos de impopularidade por tomar medidas duras para um futuro sustentável, como as reformas estruturais, do que aquele que colhe o mesmo resultado por omissão ou escolhas erradas. 

Contudo, ainda é melhor mudar de lado agora, tardiamente, do que não fazê-lo.

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Carlos Rodolfo Schneider

Empresário e coordenador do Movimento Brasil Eficiente - MBE