Já falamos sobre o churn em artigos anteriores, mas para relembrar, esse termo indica o volume de clientes que cancelaram um produto ou serviço.
Como consequência deste cancelamento temos uma receita perdida no mesmo momento em que estes clientes deixaram a sua empresa. É por isso que a palavra “churn” é tão temida, se tornando um dos principais indicadores a serem monitorados, principalmente dentro da economia da recorrência. Mas, existe um tipo de churn que deve se tornar um aliado poderoso de qualquer negócio: o churn negativo. Você já ouviu falar?
É natural que as empresas almejem uma
base de clientes sempre em curva ascendente, com uma quantidade de clientes
novos batendo sempre a taxa de cancelamentos. Porém, clientes novos não saem de
graça. Ao contrário, para geração de novos leads e conversão de potenciais em
clientes ativos, são necessários investimentos no mínimo em marketing e vendas.
Nesse ponto, a pergunta que deve ser feita é: o valor do lucro gerado pelos
seus clientes é maior que o custo para conquistá-los?
Se a resposta for sim, sua empresa está
perto de alcançar o tão sonhado churn
negativo.
“o churn negativo
é quando o aumento do seu faturamento (em clientes atuais) supera a perda de
receita pelos cancelamentos”
Vamos retomar também dois outros termos, Lifetime
Value (LTV), ou seja, a quantidade projetada de receita que um cliente gerará
ao longo da vida útil em sua empresa. E Customer Acquisition Cost (CAC), o
custo de aquisição de clientes, que define qual é o valor gasto pela
empresa para transformar um lead em um comprador ou em
um usuário dos serviços oferecidos. CAC e LTV precisam trabalhar juntos e a
análise dessas métricas indica a viabilidade de um negócio.
O LTV alto
tem um efeito determinante de sucesso no seu negócio, principalmente quando
associado a um CAC baixo. O contrário tem o efeito oposto, sendo totalmente
prejudicial, ou seja, um LTV menor ou igual ao seu CAC significa que seu
negócio está falhando.
Em nosso último artigo mencionamos que outro fator extremamente relevante em uma operação de Customer Success é o viés como engrenagem de crescimento. Assim, muitas organizações têm atuado com o time de CS na expansão da receita, ou seja, trabalhar possibilidades dentro de sua atual base de clientes. Qualquer receita que é gerada além da compra inicial do cliente pode ser considerada uma receita de expansão.
Um cliente assina um plano de R$ 99,00 por mês, mas no
terceiro mês ele faz upgrade para o plano de R$ 149,00. Você conseguiu uma
receita de expansão de R$ 50,00. Se o LTV for de 24 meses, ao final do período
você obtém R$ 1.100, 00 além da receita de R$ R$ 2.376,00 já estimada. Mas por
que considerar esse upgrade como uma receita de expansão? Simples, o valor a
maior que o cliente aceitou pagar é resultado de seu esforço para engajá-lo e
demonstrar que a oferta entrega benefícios e valor agregado. Essa é outra
diferença quando falamos de receita de expansão, o valor que o cliente “paga a
mais” é de fato um benefício, o foco permanece na entrega de resultado ao
cliente, e não somente uma venda aleatória ou para bater a meta do mês.
Mas a expansão de contas consistente e sustentável também não ocorre por acaso, ou seja, precisa ser planejada, estruturada e estimulada. Como mencionamos anteriormente, o “custo” dessa expansão não pode acontecer de modo a comprometer a satisfação ou os resultados do cliente.
Executado a partir do
Customer Success, não podemos ter abordagens aos clientes oferecendo o que eles
não precisam e nem quando não precisam. Tentar forçar uma venda fora do ciclo
não apenas prejudica a empresa como também o próprio cliente, levando a uma
perda de confiança. Por isso a importância de algo estruturado, realizando a
oferta certa e no tempo mais apropriado dentro da jornada do cliente.
Sabemos que desenvolver estratégias de
vendas assertivas não é tarefa fácil, mas neste artigo apresentaremos
estratégias de vendas focadas em melhorar a experiência do cliente e ainda
aumentar a sua receita. Técnicas que podem ser utilizadas por qualquer tipo de
negócio.
Vamos começar?
Up-sell
O up-sell é uma técnica de vendas de baixo
custo destinada a aumentar o ticket médio do cliente. Consiste basicamente
em oferecer ao cliente um produto mais caro, mas com mais recursos ou de melhor
qualidade.
Alguns exemplos são: companhias áreas que
oferecem aos passageiros a possibilidade de comprar assentos com mais espaço
para as pernas por uma diferença de preço do assento comum e, assim, terem mais
conforto durante o voo. A loja que lhe ofereceu uma TV de modelo superior ao
que você procurava para que você possa assistir filmes em 4K. E o exemplo mais
clássico de todos, a famosa pergunta do McDonald s: “Batata grande por mais R$
1,00? ”. Uma pergunta simples, atrativa e de fácil obtenção do “sim”, afinal, você
leve mais batatas por um valor quase simbólico.
O termo up-sell não possui uma tradução exata em
português, mas a ideia se baseia em um “upgrade”, ou melhora na aquisição,
oferecendo uma versão mais completa do produto ou serviço. De forma obrigatória
esse produto ou serviço deve ser da mesma categoria da escolha original do
cliente.
Se você vai a uma loja em busca de um notebook e
o vendedor lhe apresenta um modelo com mais capacidade de memória e
armazenamento, isso é up-sell. Nas lojas online, a sugestão de produtos mais
avançados também é automática, para que o cliente compare os benefícios e opte
por uma solução mais adequada às suas necessidades. Além claro de aumentar o
ticket médio, o up selling é uma ótima forma de aumentar a satisfação
do cliente com a compra.
Cross-sell
É muito comum a confusão entre a técnica de
Up-sell com a de Cross-sell. Para que fique esclarecida a diferença, vamos a
uma definição bem simples dessa técnica de vendas: o cross selling tem como
principal objetivo estimular o cliente a fechar a sua compra inicial adquirindo
produtos que a complementam.
Assim como o up-sell, o cross-sell também tem
como proposta aumentar o ticket médio do cliente, mas lembre-se que aqui
estamos falando de algo adicional, e não “mais completo”. Os sistemas de
e-commerce utilizam muito essa estratégia quando ao selecionar um item para
compra, você automaticamente passa a visualizar também a sessão “você também
pode gostar de” ou “pessoas que compraram esse produto também levaram”, com uma
seleção de produtos ou serviços complementares ao que você estava
procurando.
Utilizando o exemplo anterior da compra do
notebook, quando o comprador ofereceu um modelo com mais capacidade de memória
e armazenamento, estava utilizando a técnica do Up-sell. Agora que você já
decidiu sobre o notebook, o vendedor realiza a oferta de um mouse sem fio,
mochila para o notebook ou software antivírus. Estamos falando de itens
adicionais à compra inicial, e aqui portanto o vendedor está utilizando a
técnica do Cross-sell. Para utilizar essa técnica de forma eficaz, pense nos
produtos que fazem sentido entre si, ou seja, ofereça produtos dentro do
contexto de compra do cliente e resista à tentação de fazer cross-sell de um
número elevado de produtos. Se sugerir muitos artigos complementares ao mesmo
tempo você pode confundir o cliente e acabar sem nenhum no carrinho de compras.
Observe no quadro abaixo a diferença entre as
técnicas:
Down-sell
Down-sell é uma estratégia utilizada quando o
cliente está desistindo de comprar um produto ou serviço, seja por restrição
financeira ou momento inadequado da compra, e você oferece algo de menor valor
no lugar para buscar fechar o negócio.
Por exemplo, imagine que você foi a uma loja de
aparelhos de celular, olhou a marca e modelo do seu interesse, mas descobriu
que o valor era elevado demais e você não tem condições de comprá-lo neste
momento. Então, antes de deixar a loja, o vendedor lhe aborda e diz que tem um
modelo que você pode gostar e que possivelmente cabe em seu bolso. Percebe a
estratégia? É como se fosse uma última cartada para convencer o cliente e
convertê-lo, mesmo que o seu ticket médio seja menor.
A aplicação
Já mencionamos no início do artigo que a
aplicação destas técnicas precisa ter foco na satisfação do cliente e entrega
de resultado, pois podem se tornar inconvenientes se não forem bem planejadas.
Assim, segue mais algumas dicas importantes na condução dessas oportunidades:
· Ofereça sempre algo que vai agregar valor para o
cliente, a coerência nas ofertas é fundamental.
· Capacite a sua equipe, ela precisa estar treinada
com essas técnicas. Busque apresentar as ofertas com naturalidade, nunca
utilizando frases imperativas e anúncios exagerados na abordagem, optando por
comunicações mais sutis e próximas do cliente.
· O Princípio de Pareto diz que 20% dos seus clientes tem a
capacidade de gerar 80% de toda a receita da empresa. Foque nesses importantes
clientes e aplique essas técnicas com eles, pois eles estarão mais propensos a
adquirir os seus produtos ou serviços.
· A exclusividade é atrativa, todos gostam de se
sentir únicos. Faça o seu cliente perceber que aquela é uma oferta que pode ser
adquirida somente naquele momento e ninguém mais terá acesso a ela. E cumpra
essa promessa, pois nada pior do que você depois acessar o site ou encontrar um
amigo que adquiriu a mesma oferta “exclusiva” que você. Além disso, a
personalização ao máximo de e-mails, mensagens e falas, mostrando que conhece
as necessidades do cliente e sabe do que ele precisa é algo muito apreciado e
bem recebido.
· Utilize esses mecanismos com moderação. Esqueça
as táticas de “empurrar” produtos ou serviços apenas para fazer os clientes
gastarem mais dinheiro, concentre seus esforços em criar ofertas que de fato
solucionem problemas. Jamais transmita a ideia de que você está desesperado
para vender ou cumprir meta.
· Acompanhe os resultados de suas estratégias,
encontrando combinações vantajosas e úteis entre seus produtos, além de
aprimorar a satisfação do cliente ao promover versões de melhor qualidade.
· Conheça a jornada do comprador, e assim você
saberá em quais momentos o cliente está mais receptivo à abordagem. Talvez o
seu cliente prefira receber novas ofertas logo após a compra, na fase de
onboarding, quando está empolgado com o uso do produto/serviço e possivelmente
interessado em itens complementares. Outro marco importante da jornada é
descobrir quanto tempo após a compra o cliente está preparado por exemplo para
adquirir versões superiores de um produto ou serviço.
· Pessoas tendem a confiar mais na opinião de quem
já é cliente ou usuário de seu serviço do que em publicidade. Enxergam nas
avaliações positivas um grande estímulo para a compra. Logo, o interesse de seu
cliente pode aumentar ao ver outras pessoas recomendando os benefícios de
comprar produtos combinados e soluções superiores.
· Evite oferecer produtos ou serviços com preços
muito acima da oferta inicial escolhida pelo cliente. Além de talvez estar fora
do poder aquisitivo do cliente gerando constrangimento, você acaba por
desvalorizar a opção primária, dando a impressão de que a alternativa do
cliente tem qualidade ou performance inferior. A sugestão é que o valor de
up-sell não ultrapasse 25% do valor original.
Essas são portanto algumas técnicas e dicas para
que você pense em como fazer com que o seu cliente continue comprando de você
sempre que precisar de uma solução que você oferece, e que possa resolver o
problema dele. Se o cliente estiver enxergando valor na relação com a sua
empresa, tendo sucesso, e desfrutando de uma boa experiência, temos certeza de
que ele estará disposto a continuar comprando de você ao invés de procurar o
seu concorrente. Lembre-se:
Resultado
Esperado + Experiência Apropriada = Sucesso Desejado
Sam Walton, criador do Wal-Mart nos
deixou lições valiosas em sua trajetória. Em sua época o Customer Success ainda
não existia como conceito, mas sua visão empreendedora e paixão pelo cliente já
eram notórias. Em um dos treinamentos para a equipe, Sam Walton mencionou:
“Eu sou o
homem que vai a um restaurante, senta-se à mesa e pacientemente espera,
enquanto o garçom faz tudo, menos anotar o meu pedido. Eu sou o homem que vai a
uma loja e espera calado, enquanto os vendedores terminam suas conversas
particulares.
Eu sou o
homem que entra num posto de gasolina e nunca toca a buzina, mas espera
pacientemente que o empregado termine a leitura do seu jornal. Eu sou o homem
que explica sua desesperada e imediata necessidade de uma peça, mas não reclama
quando a recebe após três semanas somente.
Eu sou o
homem que, quando entra num estabelecimento comercial, parece estar pedindo um
favor, ansiando por um sorriso ou esperando apenas ser notado. Eu sou o homem
que entra num banco e aguarda tranquilamente que as recepcionistas e os caixas
terminem de conversar com seus amigos, e espera pacientemente enquanto os
funcionários trocam idéias entre si ou, simplesmente abaixam a cabeça e fingem
não me ver.
Você deve
estar pensando que sou uma pessoa quieta, paciente, do tipo que nunca cria
problemas. Engana-se. Sabe quem eu sou?
Eu sou o
cliente que nunca mais volta! “
O empreendedor acreditava que em qualquer
companhia, uma boa gestão de negócios só poderia ser feita com a
consciência de que só existe um chefe: o cliente. “Ele pode demitir todas as pessoas da empresa, do presidente ao
faxineiro, simplesmente levando o seu dinheiro para gastar em outro lugar”.
Independente
da técnica ou modelo de negócio, lembre-se que o importante não é fechar uma
venda, mas sim conquistar um cliente!
Co autora Michelle Borchardt Silveira
Administradora de empresas com MBA em
marketing pela Fundação Getúlio Vargas.
Atua na área de Customer Success, no relacionamento
e comunicação direta com clientes, equipes internas e parceiros estratégicos.
Em seu dia-a-dia busca contribuir para a retenção de clientes e entrega de
valor percebido. Também possui experiência em liderança de equipes de Serviços
e gerenciamento de projetos.
Autora dos livros ATITUDE – A VIRTUDE
DOS VENCEDORES – Best-seller com mais de 500.000 leitores, além de Coautora no
livro Ser+ com Palestrantes Campeões e dos doze títulos da Coleção Atitude.
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Paulo César Silveira
Conferencista com mais de 2500 palestras em seus 21 anos de carreira, nas áreas corportamental, liderança, vendas consultivas, negociação, vendas técnicas e comunicação com base em influência. Foi contratado por mais de 200 empresas das 500 melhores empresas eleitas pela Revista Exame. Professor convidado da FGV/SP, FIA FEA/USP, UDESC e UFRGS. Consultor, empreendedor e articulista com mais de 900 artigos editados. Autor de 26 livros, destacando-se os best-sellers: A LÓGICA DA VENDA, ATITUDE – A Virtude dos Vencedores e o VENDA SUSTENTÁVEL – A Lógica da NEGOCIAÇÃO lidos por mais de 4,8 milhões de leitores. Está revolucionando o mercado com novas formas de pensar e treinar equipes comerciais, com formatos disruptivos e inovadores, trazendo resultados nunca antes alcançados! Sua experiência e conhecimento são amplamente compartilhados em livros e artigos. Esses não só fizeram sucesso entre os mercados corporativos, como também despontaram em vendas para o público geral, tornando alguns dos seus títulos como os mais aplicáveis e vendidos do segmento. Sendo ainda Mentor e líder do Projeto Liderança Made in Brazil.