Como deve ser uma empresa de ferramental?

Relato da reunião virtual realizada em 22 de junho de 2022 (20:00h às 22:00h) para alinhamentos de visões globais referentes ao setor de ferramentaria, principalmente para o período pós pandemia, com a presença do Presidente de Honra da ABINFER Prof. Etsujiro Yokota, do Japão.

Foi ainda definido o próximo encontro virtual para o dia 10/08/2022 (quarta-feira), as 20:00h. O título sugerido para a próxima reunião é: A indústria de ferramental do Japão é a primeira do mundo?

Introdução

A pergunta principal é “como deve ser uma ferramentaria”? Inicialmente vamos diferenciar o conceito de empresa. No Japão, o objetivo de desenvolver uma empresa e sobreviver é a distribuição de lucros para os funcionários. 

Já nos Estados Unidos da América o lucro é dos acionistas. 

No entanto, o exemplo de uma empresa chinesa, fundada há 5 anos por 3 empresários, com 50 funcionários e em boa situação financeira, direciona para a intenção dos donos em vender o patrimônio. 

Para gerentes de ferramentarias chinesas, fazer crescer uma empresa é como cultivar frutas.

"Quando é melhor vender a fruta, quando está madura ou passada?"

Essa é a estratégia, vender o mais rápido possível. Para este tipo de administrador, a empresa deve:

• Ter alto valor agregado com potencial de desenvolvimento futuro;

• Ser de fácil gestão pelo novo administrador após a venda;

• Considerar baixa quantidade de funcionários para ter pouca pressão de sindicatos;

• Permitir a administração com autoridade do gestor.

O Professor Yokota não concorda com essa posição pois entende que essa visão não considera a importância dos funcionários e tão somente o lucro gerado pela companhia. 

Neste ponto, Yokota perguntou a opinião de Christian Dihlmann, que afirmou concordar com o posicionamento de Yokota e apontou duas considerações:

1) como fica a continuidade desta empresa vendida no ponto alto? Vai começar a definhar? Como vai evoluir mais do que o ponto “máximo” já atingido para a venda? 

2) essa posição contrasta com a a função social da empresa, que é a geração de emprego e renda.


Fluxo de manufatura na China e Japão

Impactos do Corona Vírus

O ambiente anteriormente relativamente estável mudou drasticamente. Todos os elementos praticados e/ou esperados foram esquecidos ou escanteados. 

Os riscos ficaram evidentes. Houve agravamento de guerra comercial entre duas grandes potencias: EUA e China. 

Ficou evidente o atraso no uso da tecnologia de informação e comunicação. Foi gerada insegurança pela redução da demanda interna e externa. 

A cadeia global de suprimentos colapsou e a economia mundial estagnou, gerando incertezas de futuro. 

Fica a pergunta: e agora? Novas mudanças certamente virão. 


Resumindo os eventos em torno da atual situação da indústria japonesa de manufatura para o ano de 2022, fica clara a grande oportunidade de retomada desta setor para os próximos anos.   


A mudança no mercado de clientes da indústrias de ferramentais no Japão está representada abaixo.


Previsão da fabricação de moldes em um futuro próximo

Aqui pretende-se discutir sobre “Como ficarão as empresas de moldes e matrizes a partir da fabricação automatizada? O número de pessoas na fabricação diminuirá ainda mais no futuro. 

Será possível alcançar o mesmo volume de produção com menos de 1/5 do atual (com exceção de algumas áreas de processo, não serão necessários trabalhadores especializados). 

Porém, isso será possível somente para uma parte das empresas e haverá a consolidação de empresas (M&A – Merge and Aquisition - fusões e aquisições). 

Além disso, os tipos de moldes fabricados por cada empresa serão limitados e uma nova cadeia de suprimentos será constituída (DX). As atividades comerciais e a fabricação serão realizadas inteiramente baseadas em desenhos 3D. 

O projeto (CAD/CAE/CAM) utilizará funções de IA (Inteligência Artificial), as máquinas operatrizes terão automação completa utilizando robô, as retificadores automatizadas, exceto algumas partes do processo de retificação, o controle dos processos terá gestão automática digital por IA, da mesma forma que os dispositivos de inspeção.

Através de dados de desenhos 3D, é possível trabalhar 24 horas. Com exceção de alguns trabalhos, a função da pessoa será a manutenção das máquinas e equipamentos.

Por outro lado, a essência de como deve ser uma ferramentaria é diretamente associada a equipe, ao profissional, remetendo que a “base da empresa é o ser humano”. 

Mas as pessoas em geral não conhecem o ferramental em si. Não entendem o que é uma ferramentaria e o seu valor. 

Assim sendo, a partir de agora é necessário ensinar ativamente “a maravilha da ferramentaria”. Precisamos destacar a função de ferramenteiro como atrativa e reconhecida. 

Atualmente, a indústria de software é a que mais está lucrando e pagando salários, atraindo mais jovens. A Índia é um exemplo de onde são produzidos muitos softwares, mas a indústria não se desenvolve. 

Nos EUA, na Califórnia, o foco é sistemas. E há pouca indústria.

Na sequência, ou até em paralelo, precisa-se gerar a transformação para a próxima geração, avançando para a automação. A automação não apenas aumenta a produtividade, mas também reune excelentes recursos humanos.

Empresas são pessoas – Konosuke Matsushita 

Em um local de trabalho onde é gratificante trabalhar, reúnem-se bons recursos humanos. Reciprocamente, bons recursos humanos criam um local de trabalho gratificante. 

E novamente, aí se reúnem bons recursos humanos. Portanto, a primeira ação é criar um local de trabalho que vale a pena trabalhar. 

A indústria de ferramental no contexto da subcontratação

A ferramentaria japonesa é uma indústria manufatureira que tem sido considerado na posição de indústria de subcontratação. 

Isso vem da evolução da velha “Loja de Ferreiro” da cidade para uma indústria de subcontratação. Devemos reconsiderar essa nomenclatura na 3ª Revolução. 

A Associação de Ferramental do Japão – JADMA – Japan Die and Mold Association fez declaração, perante o Governo, manifestando que a indústria não é subcontratada, não deve ser tratada como tal, mas sim que a relação deve ser igualitária às outras atividades industriais. 

Conclusões

Do lado japonês, conclui-se que há colapso da cadeia de suprimentos global. Que a guerra da Ucrânia, aliada a pandemia, desestruturou o mercado japonês, forçando alterações significativas na cadeia de fornecimento interno. 

Adicionalmente, houve grande impacto com o incremento da eletrificação automotiva no Japão. Por conta disso, estão retornando a produção interna no Japão. 

Surge a oportunidade de reconstruir a indústria manufatureira do país. Isso está ocorrendo na Indonésia e em diversos países asiáticos. 

Para a indústria se desenvolver em qualquer país, é necessário ter uma ferramentaria forte.

Referente ao Brasil, os preços estão subindo muito e a inflação explodiu, como na maioria dos países do mundo. Há grande falta de matéria-prima e componentes, como semicondutores. 

Há um movimento considerável de localização de componentes e, com isso, há grande falta de mão-de-obra e os custos sobem.

O mesmo sentimento de todos os 15 países que participaram da Assembleia Geral da ISTMA em 4 de maio de 2022 na Alemanha.

Ainda relativamente ao Brasil, mas especificamente no segmento de ferramentaria, percebe-se a extrema subordinação ao cliente final, seja automotiva, eletroeletrônica, embalagem. 

A falta de gestão e geração de caixa faz as ferramentarias serem dependentes do cliente final, submetendo-se a condições extremamente adversas. 

A raiz do problema está na falta de preparo e união dos empresários. Há uma falta de coordenação e relacionamento inclusive com os fornecedores. 

Serão desenvolvidas campanhas de conscientização do empresariado para alcançarmos uma relação mais saudável;

Yokota conclui dizendo que “a empresa é feita de pessoas” e este é o foco mais importante que deve ser dado atenção. 


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Abinfer

A ABINFER é uma associação empresarial sem fins lucrativos que representa as empresas de ferramentais de todo o Brasil e sua diretoria é composta de empresários do segmento de diversas regiões do país.