A ferramentaria ideal

Relato da reunião virtual realizada em 11 de maio de 2022 (20:00h às 22:00h) para alinhamentos de visões globais referentes ao setor de ferramentaria, principalmente para o período pós pandemia, com a presença do Presidente de Honra da ABINFER Prof. Etsujiro Yokota, do Japão. Foi ainda definido o próximo encontro virtual para o dia 22/06/2022 (quarta-feira), as 20:00h. 

Iniciando a conversa, Yokota solicitou a Christian que fizesse uma explanação resumida sobre o entendimento de uma ferramentaria atual no Brasil. Assim, foram comentados 4 pontos principais:

a) Empresário – de forma geral, trabalhou até 30 anos de idade, tendo um salário bom e acima da média de mercado. Por ver a posição e status, não necessariamente real, do patrão, entende que tem a devida competência para empreender e se tornar um empresário ferramenteiro. 

Com o valor da rescisão de trabalho, ele utiliza o dinheiro para iniciar empresa. 

Sem noção de custos e compromissos financeiros, não faz planejamento nem monta um plano de negócios. 

Geralmente compromete o fluxo de caixa em favor de benefícios da vida privada e gasta antes de receber. Tem pouca visão ou experiência comercial e financeira; 

b) Funcionário – de maneira geral, o profissional técnico era mais bem preparado no passado do que nos dias de hoje. Por ser uma atividade em constante evolução e diversificação de produtos, passa por muitas etapas ainda artesanais exigindo experiência e conhecimento. 

Atualmente os jovens são muito compulsivos e não percebem valor na profissão em que estão. Buscam sempre novos desafios mas sem o devido preparo para tal. 

Por outro lado, a geração atual é mais rápida e tem uma quantidade de informações técnicas disponível infinitamente maior do que a geração passada. Entretanto, precisa saber aplicar esta massa de conhecimento com o devido embasamento técnico. 

A média de idade é de 34 anos de idade nas empresas, denotando clara renovação do perfil profissional do segmento; 

c) Tecnologia – quando comparada aos países líderes na produção de ferramentais, o parque de máquinas e tecnologias de produção está defasado em cerca de 10 anos. 

Não há investimento na renovação do parque fabril por conta da baixa lucratividade do setor e da carência de planejamento financeiro consistente. 

Essa baixa lucratividade está altamente associada a vergonhosa produtividade obtida no segmento que torna o retorno do investimento muito dilatado. 

A produtividade brasileira nas ferramentarias orbita na casa de 23% em máquinas de produção contra 58% dos melhores fabricantes globais. 

A aplicação de recursos de simulação disponíveis na grande maioria dos sistemas computacionais também é pouco conhecida, impedindo o aproveitamento melhor dos recursos disponíveis e a conversão em ganho de produtividade; 

d) Governança – o empresário brasileiro, de maneira geral, não está preparado para assumir a governança apurada e progressista necessária para o sucesso do negócio. 

Não por má fé, mas por total despreparo e desconhecimento das técnicas de administração corporativa. 

Dessa forma, atua e decide muito de forma cognitiva, sem embasamento técnico. É a gestão pelo coração e não pela razão.

A afirmação de Yokota é que o Brasil de hoje se iguala ao Japão de 30 anos atrás. Dando seguimento, mencionou que, atualmente, a crise pandêmica está afetando a indústria manufatureira do Japão da seguinte forma: 

a) Descobriu-se inesperadamente que não eram mais fabricados no país as máscaras, seringas, roupas de proteção médica, equipamentos médicos, dentre diversos outros produtos; 

b) Identificou-se repentinamente a vulnerabilidade da indústria japonesa devido a falta de chips e semicondutores. Isso causou a necessidade de fabricação de algumas peças no exterior, para banheiros, aquecedores e peças da indústria de automobilística. A linha de montagem de carros nacionais é altamente dependente de peças importada; 

c) Clareou-se a baixa taxa de autossuficiência do Japão exposto pela }Crise da Ucrânia”, com produtos que vão desde farinha, soja e até itens de necessidades diárias; 

d) Percebeu-se que a fabricação de armas de autodefesa do Japão é realizada no exterior, revelado também pela “Crise da Ucrânia”. Esse fato alavancou a necessidade de rever a produção de armamentos no país.

Nítido restou que a afirmação “sendo barato está tudo bem” é um grande erro. Como resultado, reconhecendo a importância da segurança econômica para o desenvolvimento do Japão, o Congresso está deliberando sobre a Lei de Promoção da Segurança Econômica. 

Na indústria de manufatura, a fim de estabelecer a segurança econômica, é necessário proteger os insumos de matéria primas. E a base da manufatura é a indústria de ferramental. Isso é de conhecimento de todos.

Sem o molde não se fabrica nada!

Mas a impressão geral dessa importante indústria de ferramental é que o funcionário veste uniforme sujo, carrega material pesado todos os dias, trabalha com máquinas antigas e cheios de oléo, em ambiente escuro e fabricam produtos que não recebem atenção do público, que os salários não podem ser considerados de alta renumeração. 

E que são, principalmente, indústrias de pequeno e médio porte que não a torna uma indústria “atraente”. 

Portanto, é preciso transformer o conceito, valorizar a profissão e fortalecer as conexões com a sociedade. 

Para os jovens que vão liderar a próxima geração, é imperativo incutir em suas cabeças que a indústria de ferramental é atraente e deve ser escolhida como local de trabalho. 

A fim de mudar essa má impressão da indústria do ferramental, precisamos levar o setor a um novo patamar. 

O professional vai vestir uniformes limpos, ter atuação inteligente, sem necessidade de uso da força para trabalhar, bom ambiente de trabalho, serviço reconhecido pela sociedade e renumeração salarial de alto valor. 

Contudo, na realidade não existe este local de trabalho ideal no mundo. Então, como podemos fazer a indústria do ferramental ser a mais desejada? Esclarecendo este mal entendido. 

Os profissionais do setor sabem que:


A primeira imagem abaixo demonstra a entrada de uma ferramentaria totalmente subterrânea e com temperatura controlada. Já a segunda imagem mostra uma área de usinagem com máquinas de última geração.


O maior desafio da indústria de ferramental está no fato de serem raras as pessoas que sabem responder à pergunta "o que é uma ferramentaria". Mas quem é o reponsável por esse fato? 

A responsabilidade é de todos os envolvidos na indústria do ferramental, pois não deixaram conhecida a importância desse importante setor industrial.

Cada empresa utiliza o website, participa em feiras, e, exposição, entre outros eventos, para “apresentar” os atrativos de sua empresa, mas apenas isso não é suficiente. 

O que deve ser feito a partir de agora é “mostrar” os atrativos deste indústria. Há uma grande diferença entre APRESENTAR e MOSTRAR. Como se diferencia? Basicamente, apresentar é baseado no conceito de visão pelo lado da empresa vendedora. 

E mostrar é baseado no conceito de visão pelo lado da empresa compradora. Um ditado diz “conte-me que vou esquecer, mostre-me que vou aprender”. Pense nesta diferença! 

Apresentar é pela visão do vendedor.

Mostrar é pela visão do comprador.

Então, o que e como devemos mostrar? A base para “mostrar” é pensar a partir do ponto de vista do espectador, do cliente. Se o espectador não estiver interessado, não terá sentido, pois ninguém vai ver. 

Há 2 maneiras de dizer “isto é maravilhoso na ferramentaria!”. Uma delas é oltada ao mercado cliente; A outra é direcionada ao público em geral. 

O importante é atingir o público em geral, pois é formador de opinião e construtor de tendências.

Originalmente o local de trabalho em uma indústria de ferramentais é atraente. Não há outra indústria manufatureira tão interessante como esta. 

Entretanto, as pessoas em geral entendem muito pouco ou nada. A partir de agora, as indústrias de ferramentais devem promover atividades proativas de “mostrar” e posicioná-la como um local de trabalho atrativo. 

Qual o centro dessa promoção? A associação de fabricantes de ferramentais do país. No Brasil, a ABINFER deve se dedicar à essa ação com muito empenho e intensidade. 

As questões “o que é um ferramental” e “o que pode produzir um ferramental” devem poder ser respondidas por qualquer cidadão. 

A imagem que uma empresa de ferramental deve refletir, vista pelas pessoas em geral: 

• Atividade profissional atraente;

• Ambiente de trabalho atraente;

• Empresa que gostaríamos de trabalhar.

Na realidade, já existem muitas empresas de ferramental no Brasil que atendem a esses itens. A partir de agora, como fazer para mostrar isso? 

Destacar, com muita clareza e determinação, a atratividade da ferramentaria com os seguintes pontos:

• Trabalho diário com criação, sendo um local realmente divertido (pode-se trabalhar todos os dias em diferentes serviços);

• Sempre envolvido no desenvolvimento de produtos de ponta (novos produtos começam com a fabricação de ferramentais);

• Empresas de bom tamanho, pequeno e médio porte (sempre podendo se transformar para adequar-se à época);

• Sempre envolvido em tecnologia de ponta (CAD/CAM/CAE, robôs, tecnologia de inteligência artificial, máquinas-ferramentas de ponta).

Conclusões

Finalizando, o grupo se perguntou: o que é uma ferramentaria ideal? A cerne da vida de uma empresa de ferramental está nos recursos humanos que ali trabalham. 

Portanto, a conclusão de “o que é uma empresa de ferramental ideal” é aquela empresa onde vale a pena trabalhar. 

O grupo entende que o assunto “a ferramentaria ideal” deve ser mais profundamente explorado e que são boas sugestões de temas para as próximas reuniões:

• A postura do empresário ferramenteiro do Japão relativamente a governança do negócio;

• Tratativas comerciais entre ferramentaria x cliente x fornecedor.

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Revista Ferramental

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